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Roteiro cultural

Por meio de personagens da cultura nacional é possível conhecer melhor lugares já familiares aos moradores de São Paulo, que podem ganhar mais significado em um roteiro temático. Bares onde confraternizavam a nata da música popular brasileira na década de 1950, livrarias frequentadas pela elite intelectual paulistana nos anos de 1920 e instituições que marcaram a história da arte brasileira podem garantir um passeio enriquecedor pela cidade. 

De acordo com a jornalista e historiadora Márcia Camargos, autora de A Semana de 22: Revolução Estética? (Companhia Editora Nacional, 2007), os modernistas circulavam muito pelos arredores do Teatro Municipal desde o início da década de 1910, que coincide com sua inauguração. Na agitada livraria Jacinto Silva, durante a exposição de suas obras, Di Cavalcanti tem a ideia da Semana de Arte Moderna e Graça Aranha decide apoiá-lo. Após cerca de um ano, o Teatro Municipal seria palco para o evento que marca a ruptura da arte nacional com os ideais estéticos do século 19. 

A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, é outro marco importante para a formação da vida intelectual da cidade e de seus principais poetas e escritores. Desde o início de suas atividades, em 1828, nomes como Álvares de Azevedo, Oswald de Andrade, Monteiro Lobato, José de Alencar e Castro Alves estudaram no local. “Foi lá que Oswald arregimentou os estudantes para vaiarem na segunda noite da Semana”, afirma Márcia.

Localizado no Parque Dom Pedro II e inaugurado na década de 1920, o Palácio das Indústrias foi onde Menotti del Picchia e Oswald de Andrade encontraram o escultor Victor Brecheret trabalhando em um salão cedido pelo arquiteto Ramos de Azevedo, seu professor no Liceu de Artes e Ofícios. O edifício, que foi sede da prefeitura de 1992 a 2004, também abrigou uma exposição com obras de vários nomes importantes da arte, incluindo Anita Malfatti, na época da Semana de 1922. “O Monteiro Lobato elogiou muito essa mostra, mas quase não se fala dela, pois a Semana de Arte Moderna ocupou o cenário totalmente”, diz Márcia.

Fundado em 1906, o Conservatório Dramático Musical, onde Mário de Andrade lecionava, era outro lugar com o qual os modernistas tinham forte relação. O edifício na Av. São João foi tombado pela prefeitura após entrar em decadência, está sendo reconstruído e deve ser reinaugurado até o final do ano, segundo Márcia. “Com exceção da casa do Mário e da do Guilherme de Almeida, que foram preservadas, a casa da Olivia Guedes [Penteado], a do Paulo Prado, o ateliê da Tarsila [do Amaral], a Vila Fortunata [residência do mecenas René Thiollier na Avenida Paulista], a Villa Kyrial do José de Freitas Valle, que era um museu maravilhoso, todas foram demolidas”, diz. “Isso mostra bem a forma como São Paulo preserva sua memória.”

Seguindo a canção

Um roteiro temático da música popular em São Paulo não pode deixar de contar com dois importantes redutos da boemia paulistana, o restaurante Parreirinha, cujo último endereço é a Rua General Jardim, Vila Buarque, e o bar Jogral, que, quando fechou na década de 1970, estava em sua segunda sede, na Rua Avanhandava, Bela Vista.

“Os artistas iam beber após os shows, bater papo e encontrar os amigos no Parreirinha. Eu fui muito lá com a Inezita Barroso, que tinha uma cadeira cativa lá, com o Miltinho, Jamelão”, afirma o jornalista e pesquisador da cultura popular Assis Ângelo, autor de A Menina Inezita Barroso (Cortez, 2011). Lupicínio Rodrigues, Adoniran Barbosa, Ataulfo Alves e Ângela Maria são outros frequentadores do lugar, que teve seu auge na década de 1950 e fechou em 2001, depois de 74 anos de história.

Já o Jogral, palco de estreia de músicos como Martinho da Vila e Jorge Ben Jor, era marcado pelo ecletismo musical. Caetano Veloso e Gilberto Gil eram vistos por lá, assim como a turma da velha guarda, como Paulo Vanzolini e Adoniran Barbosa, ou mesmo o pessoal do samba-rock. Inclusive foi no Jogral que a batida do samba-rock foi criada, pois o percussionista do Trio Mocotó João Parahyba, sem espaço para montar todo seu equipamento no bar minúsculo, teve de se virar com a timba, instrumento que se tornaria um dos símbolos do gênero popularizado por Jorge Ben Jor.

“O Paulo Vanzolini foi sócio do Jogral. É curiosíssimo, pois ele dava uma de garçom às vezes, eram outros tempos”, diz Ângelo. “Este foi o bar com música ao vivo mais importante que São Paulo já teve.”

De acordo com Ângelo, São Paulo é tema de mais de 3000 músicas, sendo Ronda, de Paulo Vanzolini, uma das mais célebres.

“Ele fez essa música quando era cabo do exército e fazia rondas pelo centro, montado a cavalo. Tem referência à Ipiranga com a São João, que era um marco da cidade, e que o Caetano Veloso depois repete em Sampa”, diz ele.


Sob novo olhar

Programação especial comemora o Dia internacional do Turismo

Entre 22 de setembro e 7 de outubro, o Sesc comemora o Dia Mundial do Turismo (27/9) com programação baseada no tema Cidades e Personagens. Contando com atividades que incluem excursões, bate-papos, palestras, passeios, exposições e saraus, todas as unidades vão celebrar a data de forma a propor uma nova perspectiva sobre as cidades.

“Você pode olhar a cidade através de personagens. Esse é um modo bem diferente de fazer turismo. Mesmo em um momento de lazer, você pode entrar em contato com fatos que são enriquecedores. A isso a gente dá o nome de educação informal”, explica a assistente de turismo social da Gerência de Programas Socioeducativos do Sesc São Paulo Denise Kieling.

Para dar uma ideia, ela conta que pode haver uma atividade sobre a obra de Guimarães Rosa, por exemplo. “Pensando nos livros que ele escreveu, podemos escolher um personagem e propor um roteiro sobre fatos e locais por ele descritos”, sugere.

Os destaques da programação ficam por conta da viagem Rio de Noel, o Poeta da Vila (RJ), na qual será apresentada a cidade do Rio de Janeiro sob leitura do período de vida de Noel Rosa (1910-1937); do passeio Dá Licença de Eu Contar – São Paulo de Adoniran Barbosa, no qual um violinista e uma cantora e atriz acompanharão o grupo realizando intervenções musicais e poéticas, além do sarau literomusical Causos, Cordel e Viola, no qual há um encontro para explorar a região do Vale do Paraíba com participação de contadores, escritores e representantes da cena literária da região, mesclando as histórias e causos com literatura de cordel, ao som da viola caipira.

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