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Nova edição da Bienal de Arquitetura ¿muda formato, privilegiando ¿o diálogo entre cidadãos ¿e o compartilhamento
do espaço urbano


Em sua décima edição, a Bienal de Arquitetura redefiniu formato e ações. De 12 de outubro a 1º de dezembro, estará espalhada em diferentes centros culturais da cidade de São Paulo e não mais só em um local, como acontecia anteriormente. De acordo com o curador Guilherme Wisnik, a motivação para o estabelecimento dessas novas diretrizes foi espalhar a exposição pela capital em vez de concentrá-la dentro de um prédio. “É uma bienal sobre cidades e não sobre arquitetura em seu sentido restrito de edificação, mas sim de questões urbanas. A vontade é fazer uma exposição que converse com a sociedade como um todo e não apenas com uma parcela da população especializada no assunto, no caso os arquitetos. Desse modo, levantamos questões que interessam a todos os moradores dos centros urbanos”, enfatiza Wisnik, que divide a curadoria com Ana Luiza Nobre e Ana Ligia Nobre.
Impulsionado pelo tema “Cidade: Modos de Fazer, Modos de Usar”, o evento explicita o consenso de ultrapassar os limites da arquitetura e estimular as pessoas a intuir novos modos de olhar e estar no espaço urbano, compondo uma rede ativa de associações, pensando no papel do arquiteto e na contribuição dos moradores. A iniciativa de articulação em rede terá atividades em instituições e locais diversos, entre eles o Sesc Pompeia, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Elevado Costa e Silva (o Minhocão). “Ao articular a bienal em rede fica evidente que todos vivemos a cidade e ninguém está de fora”, acrescenta Ana Ligia. “Por isso a dimensão escolhida acena para o papel da arquitetura e urbanismo nesse sentido coletivo.”
Segundo os curadores, a preferência por uma rede de conexões coloca na linha de frente a importância de tornar efetiva a mobilidade urbana, um conceito vinculado à cidadania e uma necessidade apontada na lista das reivindicações populares durante a onda de manifestações ocorridas no mês de junho em São Paulo e replicadas em muitas cidades brasileiras. “É muito gratificante saber que uma pauta que já estava no planejamento feito para a bienal tenha sido foco de atenção das manifestações populares, mostrando que a discussão está madura”, comenta Wisnik.

Pontos de ação
Uma das articulações marcantes escaladas para a bienal são os coletivos, formas de organização que ganharam força na arte contemporânea no final dos anos 1990 e, neste momento, se apresentam compostos por profissionais de várias áreas – não somente as artes visuais. Reúnem outras vertentes de atuação, como arquitetos e designers. Um exemplo é o coletivo espanhol EME3, que se uniu à Fundação Fenômenos no projeto Como Virar sua Cidade, para formar uma rede com participação igualitária de ambos. “O objetivo principal é criar oportunidades de atuação conjunta e realizar intervenções permanentes. A bienal surge como um canal de comunicação e inspiração para que outras pessoas arregacem as mangas e construam conjuntamente a cidade”, declara o jornalista e representante da Fundação Fenômenos, Alex Fisberg. “Estamos trabalhando para realizar ações nos próximos meses utilizando o melhor de cada coletivo para transformar espaços públicos que apresentam necessidades de melhoria ou oportunidades não aproveitadas.”
Tal postura ativa em relação à cidade evidenciada pelos coletivos é visível em outros lugares do mundo. Em mapeamento feito pela organização da bienal, constata-se que a América Latina e a Europa possuem uma concentração maior desse tipo de organização, que costuma atuar positivamente no contexto e compartilhar o conhecimento adquirido por meio de suas ações.
Wisnik acredita que os casos abordados e discutidos durante a bienal podem reverberar nos ouvidos do poder público e resultar em exemplos concretos que visem à melhoria da situação dos centros e da mobilidade urbana que se desenha atualmente. “A bienal é positiva, pois participa de um momento de decisões para a cidade de São Paulo, como a revisão do Plano Diretor, que determina que os edifícios tenham comércio no pavimento térreo e defende a habitação de interesse social nas regiões centrais”, afirma.
Os coletivos também ilustram a transição entre o pensar e o fazer cidadão, desenvolvendo de modo colaborativo ações reais de transformação ao considerar as especificidades das pessoas e dos locais onde trabalham para modificar o espaço urbano. Alex Fisberg cita como fundamental a capacidade de identificar oportunidades e o potencial de cada cidade. “Os coletivos estão identificando tais oportunidades e correndo atrás do que pode ser feito para executar mudanças possíveis, tendo em vista a importância dos processos multidisciplinares que desenvolvemos”, relata Fisberg.

BOXE – Pesquisa coletiva

Sesc Pompeia sedia atividades que promovem soluções criativas para problemas das comunidades e reflexões sobre desenvolvimento urbano

Ao serem citados os grandes marcos arquitetônicos brasileiros, o projeto do Sesc Pompeia, concretizado por Lina Bo Bardi (1914-1992), sempre é mencionado. Com forte papel prático e simbólico, o prédio sediará atividades da 10ª Bienal de Arquitetura, que será realizada entre 12 de outubro e 1º de dezembro, em diversos locais de São Paulo. Quem resume a participação é o técnico das Oficinas de Criatividade da unidade, Guilherme Leite Cunha: “Congregamos o que nesta edição se chama de ‘modos de fazer e modos de usar’, ou seja, um local em que a proposta de arquitetura, o planejamento e o seu projeto convivem em um uso ativo e crítico por parte do público. Em termos práticos, além de uma exposição e de um grande seminário, a Universidade Parsons (Nova York) trará uma metodologia de oficinas e participação comunitária inovadora, já testada em outros locais”. O projeto originalmente chamado de Amplify, e aqui de “Amplifique: Pompeia”, irá investigar e amplificar propostas criativas de coletivos ou indivíduos, organizados ou não, que trabalhem com o bem público. A unidade abrigará ainda o ciclo de encontros “Ideas City”, nos dias 25 e 26 de outubro. O princípio norteador do ciclo é a ideia de que a arte e a cultura são essenciais para a saúde dos centros urbanos. Entre os convidados estão a crítica literária e educadora Heloísa Buarque de Hollanda, que abordará o momento cultural brasileiro, o diretor do Urbanscale, Adam Greenfield, e o professor de Cultura Pública e Urbanismo do Departamento de Artes Visuais da Universidade da Califórina, Teddy Cruz, sobre o papel desempenhado pelo ambiente urbano e as mídias sociais na transformação de uma revolta em um movimento. 
Para a assistente de Artes Visuais da Gerência de Ação Cultural (Geac) Juliana Braga, a parceria do Sesc com a bienal não é inédita, mas a mudança em seu formato vai ao encontro dos princípios da instituição, identificados pelo “empoderamento da população sobre os aspectos da cultura arquitetônica e artística que a cidade pode promover, somados ao debate sobre mobilidade urbana tendo a cidade como espaço de discussão de aspectos fundamentais ao cotidiano”. Essa característica fortalece a escolha de “espalhar” o roteiro em diferentes estações culturais da cidade. “Para que as pessoas vejam que a arquitetura é um elemento que lhes pertence”, ressalta Juliana. “As atividades mostrarão ao público um processo de criação conjunta, que não se dá só pelos artistas, mas na conexão das comunidades dos locais onde serão feitas as pesquisas dos coletivos.”
Ao ceder seu espaço para o módulo “Modos Colaborativos de Fazer, Modos Colaborativos de Usar”, o Sesc Pompeia estará ao lado do Teatro Oficina e do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes. É o núcleo no qual estão programadas palestras, oficinas e exposições, tendo como um dos destaques o trabalho dos coletivos híbridos – formados por artistas e arquitetos – Supersudaca (Coletivo internacional que foca seu trabalho na América Latina, sem um ponto único de atuação), Vazio S/A (Belo Horizonte) e EME3 (Barcelona). “O significado de trazer tais coletivos para o público e para a comunidade da região na Bienal de Arquitetura é justamente o de esclarecer que o pensamento sobre a cidade não é papel somente dos especialistas, mas que pode e deve ser papel de seus moradores”, diz Cunha. “Nesse sentido, a 10ª Bienal busca a desconstrução da função dos especialistas e do poder econômico e político no que se refere à construção urbana, para recolocar a importância da própria população, que atua muitas vezes em ações isoladas, ou mesmo desarticuladas, mas que são potentes em termos de solução e criação urbanística”, analisa.
Outra atividade que privilegia a interação reflexiva com o espaço urbano é Conexão Sul, projeto do Sesc Interlagos. A proposta é desafiadora: uma expedição de barco pela Represa Billings, seguida de uma dinâmica de mapeamento coletivo, gerando reflexões sobre seu papel na região e as práticas socioambientais. O centro da experiência é o debate do espaço e a sociobiodiversidade da Região Sul, por meio de vivências em duas comunidades tradicionais: o povo de santo do terreiro Asé Ylê do Hozoouane e o povo indígena Guarani Mbya, da aldeia Tenonde Porã. Consulte a programação completa no Em Cartaz. Também sobre o tema, ainda neste mês de outubro o SescTV estreia nova temporada da série Arquiteturas, de Paulo Markun e Sérgio Roizenblit. Com 13 novos episódios, o programa vai abordar questões relacionadas aos diferentes modos de habitar. Acompanhe a programação em sesctv.org.br.