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Arte inquieta
“Sentar para jantar com Ingmar Bergman fez eu me sentir como um pintor de paredes diante de Picasso.” – contou o cineasta Woody Allen, em entrevista à revista americana Esquire, na ocasião do lançamento de seu último filme, “Blue Jasmine”.
Mais do que sua admiração pelo cineasta sueco, Allen reforça, nesta curta fala, uma de suas maiores obsessões: o status de arte absoluta que Bergman concedeu à família, seus conflitos domésticos, enganos pessoais e pequenas vilanias. Esta “herança” cinéfila é um dos pontos abordados na mostra “Obsessões de Woody Allen”, que o Sesc Rio Preto apresenta em fevereiro e março.
O especial consiste na exibição de 10 filmes icônicos de Allen; alguns seguidos de bate-papos com o professor Márcio Scheel e o crítico de cinema Marcelo Janot; e um curso, voltado a profissionais de artes cênicas, sobre a presença da dramaturgia teatral no cinema do diretor nova iorquino. A mostra acontece em duas etapas. A primeira, de 04 a 08/02, apresenta os filmes “Bananas”, “A Última Noite de Boris Grushenko”, “Manhattan”, “Interiores” e “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. “Memórias”, “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo”, “A Era do Rádio” e “Dorminhoco”, serão exibidos de 25 a 29/03.
Para Márcio Scheel, professor de Teoria da Literatura e um dos curadores da mostra, a filmografia de Allen é essencial para quem quer entender e vislumbrar a essência de um real artista. “Toda arte, de algum modo, revela as obsessões que movem seu criador. E na história do cinema, poucos cineastas encarnam tão profundamente a paixão pela arte e a arte como pathos como Woody Allen”, afirma Schell. “As ideias fixas, os argumentos compulsivos, a insistência nos temas e motivos, o humor e o pathos, tudo isso faz de Woody Allen um desses artistas raros, para quem a arte não é só a precisão do gesto, o domínio da linguagem e dos recursos técnicos, mas um modo de buscar uma resposta a tudo o que nos obseda. Ainda que essa resposta não exista", completa.
O fato é que, aos 77 anos, Woody Allen não só assume e encara suas obsessões, como também não as poupa da exposição ao grande público. Seja por meio de seus filmes ou impagáveis entrevistas, o cineasta mostra-se ainda afiado e sem medo de compartilhar (ou exorcizar) seus pensamentos.
Selecionamos algumas das melhores declarações feitas por Allen à imprensa recentemente. Delicie-se com alguns fragmentos desta que é considerada uma das mentes mais inquietas das últimas décadas:
“Não há muitos lugares onde eu queira passar três meses.”
- sobre seus últimos filmes, rodados no exterior
“O fato de terem educação e dinheiro não as impedem de fazerem
bobagens tremendas e de levarem vidas trágicas.”
- sobre os intelectuais que inspiram a maior parte de seus filmes
“Não sou perfeccionista. Não fico obcecado pela palavra certa. Nenhum pouco.
Sou um escritor descuidado e rápido.”
- quando questionado sobre seu método de trabalho
“Não quero os papéis geriátricos. Quero fazer algo engraçado.”
“Você pode imaginar o quão frustrante é quando eu faço esses filmes com a Scarlett Johansson
e a Naomi Watts e os outros caras que ficam com elas, sendo eu o diretor.
- respondendo o porquê de ter deixado de atuar em seus filmes
“Envelhecer é um negócio ruim e eu te aconselharia a não fazê-lo se for possível evitar.”
- sobre envelhecimento
“Seria como se eu fosse à suas casas e lhes falasse minha
opinião sobre seu casamento ou sobre como elas criam seus filhos.
- rebatendo as críticas ao seu relacionamento com a filha da ex-mulher Mia Farrow, Soon-Yi Previn
“O fato de lhe chamarem de grande não faz você ser grande, e o fato de dizerem que um
trabalho é terrível não o torna terrível. Eu me lembro de, anos atrás, voltar para casa depois de ter
um grande triunfo com "A Última Noite de Boris Grushenko" e, mesmo assim,
a garota do apartamento em frente não quis sair comigo.”
- comentando o sucesso
“Todo o mundo é provido de um mecanismo de negação. O meu é defeituoso.”
- sobre mortalidade
“A população não vibra tanto com um musical da Broadway e sim
com O.J. Simpson e Monica Lewinsky na TV. Tudo nesse país precisa ser real.”
- sobre o público dos EUA
“Gosto de manter meu filme quieto, sigiloso. Para mim, a melhor coisa é quando o filme estréia e ninguém sabe do que se trata.”
- sobre entregar apenas as falas das personagens ao elenco, ao invés do roteiro completo
“O único jeito de ser feliz é se você se contar algumas mentiras e enganar a si mesmo.”
- sobre a felicidade
“A coisa que acho que ia me deixar mais deprimido é esperar pelo carro na saída.
Imagina quanto pode demorar para o manobrista chegar com tanta gente saindo
ao mesmo tempo? E se ele não achar o carro?”
- sobre suas sucessivas ausências na cerimônia do Oscar
Twitter? Não faço ideia do que seja isso. Mas o Facebook eu conheço, porque assisti ao filme e gostei. Portanto, sei o que é o Facebook. E tenho um site meu na Internet, que nunca vi na vida. Não faço ideia de se funciona nem de qual seria sua utilidade, mas algumas pessoas o criaram para mim.
- sobre redes sociais
"O problema é fazer bons filmes, essa é a parte difícil.
Fazer filmes não é difícil."
- sobre sua longevidade como cineasta
A seguir, você pode ver o catálogo eletrônico:
Leia as entrevistas completas:
Esquire / Time Out / Estadão (31/12/2010) / Estadão (22/06/2011) / Folha de São Paulo / Movie Vício / Terra / The Talks / Adoro Cinema
o que: | As Obsessões de Woody Allen |
quando: |
4/fevereiro a 29/março Grátis |
onde: |