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Itinerância que Rompe Fronteiras
Quando seu computador quebra, a primeira coisa que vem à cabeça é: vou comprar um modelo novo e jogar este no lixo? E quando bate aquela fome, dá vontade de devorar um pacote de salgadinho com refrigerante? Questões sobre as consequências de atitudes como estas são tema da Itinerância da 4ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, que terá exibições de filmes nacionais e internacionais, rodas de conversa e oficinas. De 12 a 26 de setembro o Sesc Campo Limpo recebe parte da programação, que pretende estimular a reflexão sobre temas socioambientais da atualidade.
Transitando entre cinema latino-americano, biodiversidade, consumo e povos, os longas-metragens revelam realidades do nosso cotidiano que, muitas vezes, passam despercebidas, mas podem causar grandes impactos na sustentabilidade do planeta.
Joga fora, no lixo?
Você sabe como é o funcionamento do computador, celular ou tablet que está usando agora para ler esta matéria? A falta de conhecimento técnico básico sobre equipamentos eletrônicos pode ser um dos motivos que facilitam seu descarte desnecessário. Em A Tragédia do Lixo Eletrônico, uma realidade é revelada. O espectador é levado a uma viagem investigativa pela Europa, China, África e EUA, que apresenta o comércio global tóxico alimentado pela ganância e corrupção. A exibição contextualiza a produção desenfreada do lixo eletrônico e seu descarte ilegal no meio ambiente e será seguida de um bate-papo com o ativista e desenvolvedor de software livre, Felipe Sanches, que falará sobre sua experiência com estações de metarreciclagem e oficinas educativas.
Felipe conta que participou de projetos em que realizavam a separação do lixo e aproveitava-se uma parte para consertar e montar computadores que seriam doados para telecentros de comunidades carentes. “A cada três computadores que jogam no lixo eles conseguiam transformar em um. As outras peças que não funcionam eram separadas por tipo de material e encaminhadas pra reciclagem”.
Mesmo com este trabalho o descarte de produtos eletrônicos ainda alcança números altos. O filme revela que, todo ano, mais de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico – computadores, televisões, celulares, eletrodomésticos – são descartados no mundo desenvolvido. Para ter-se noção do quanto isto significa, este volume daria para encher o Estádio do Maracanã aproximadamente 340 vezes. Mas por que será que isto acontece?
Para Felipe, o acesso às informações sobre o funcionamento dos equipamentos pode contribuir com a diminuição da produção do lixo. “O hardware [parte física dos computadores] dá medo nas pessoas, elas têm medo de abrir e manusear uma placa. Acho importante aprender como as máquinas funcionam por dentro, para abrir a mente de que as coisas não precisam ser jogadas fora, elas podem ser consertadas trocando uma pequena peça”. Relata também que outro motivo é o aumento da tecnologia, que estimula as pessoas a adquirirem os últimos modelos. “Existe uma cultura de consumo em massa em que as coisas se tornam rapidamente obsoletas por uma demanda de mercado para sempre vender mais e substituir por algo mais novo, daí gera esse volume gigantesco de lixo. Isso é uma coisa cultural que o mundo inteiro está sofrendo”.
Diga-me o que come, que direi quem és
A preocupação com uma alimentação saudável costuma vir acompanhada de interesses estéticos, ou quando o médico dá um puxão de orelha e prescreve uma dieta balanceada. Mas mudar os critérios de consumo pode ser mais importante do que imaginamos. A exibição de O Veneno Está na Mesa 2 revela as consequências para a saúde pública causadas pelo uso dos agrotóxicos, enfocando a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores.
Após assistir ao longa-metragem, os participantes poderão experimentar receitas que levam consigo os conceitos de ecologia integral, aliando saúde à preservação ambiental e alimentos orgânicos que não apresentam agrotóxicos, com a oficina Alimentação Saudável e Sustentável, ministrada pelo projeto Canto da Horta.
O educador ambiental André de Marco, faz parte do projeto e conta que uma educação alimentar é importante e urgente: “a maioria das pessoas está muito desconectada do alimento que está comendo, sem refletir sobre como ele é produzido e como interage com seu próprio corpo”. Para ele, a alimentação é um dos hábitos que causa mais impacto do ser humano no planeta. “Através dela nós temos o poder de escolher qual é o tipo de relação que o homem terá com a natureza ao cultivar seu alimento e em tudo o que envolve o caminho da comida até nosso prato”.
Optar por alimentos livres de agrotóxicos pode parecer causar um aumento no orçamento, mas na verdade pode significar exatamente o oposto. “Alimentar-se bem não necessariamente é caro, pelo contrário, pode até ser mais barato se soubermos como fazer isso”, comenta André. Para ele, “o mercado alimentício nos induz a acreditar que o melhor para nós é consumir alimentos industrializados, congelados e pré-prontos, por sua praticidade”.
Como estamos habituados a receitas que fazem parte da nossa rotina, ele explica que temos um certo preconceito com o que é diferente do convencional. Na oficina ministrada por ele serão degustados o Nhoque de Cará com molho pesto de Capuchinha e Smoothie Verde. Antes de torcer o nariz, veja o que significa cada ingrediente. Para fugir do padrão do uso de batata e trigo na preparação do nhoque, é utilizado o cará, um tubérculo nativo e saudável, e a Capuchinha, uma PANC - planta alimentícia não convencional, que é nativa das Américas e presente antigamente em nossa cultura por ser um erva espontânea e de fácil cultivo. O Smoothie Verde é uma bebida cremosa desintoxicante para tomar no café da manhã, feito com a mistura de água de coco, couve ou alface, frutas e castanhas.
André finaliza comentando que festivais como a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental são importantes para a conscientização ambiental da sociedade. “Informação confiável é sempre bem vinda. Nós devemos utilizar várias ferramentas para que a educação ambiental atinja as pessoas. Claro que nem todas as ferramentas vão surtir efeito igual em todos, então é importante trabalharmos com cinema e artes diversas, além de, como é o nosso caso, oficinas de ensino com degustação”.
Assim, como a itinerância para diversas regiões da cidade contribui com a ampliação desta ação educativa. “Estas ações devem estar presentes em todos os lugares, sejam em grandes centros urbanos ou bairros periféricos, pois em ambos ainda existe uma carência de instruções e conhecimentos adequados que não sejam tendenciosos, como numa propaganda”.
Esta é só uma parte da programação que se estenderá por duas semanas no Sesc Campo Limpo e por mais 19 unidades do Sesc em São Paulo, de 8 de setembro a 10 de outubro. Confira a programação completa e prepare-se para mergulhar em um universo de descobertas e reflexões sobre os efeitos causados por nossas escolhas.
o que: | Itinerância da 4ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental |
quando: |
De 8 de setembro a a10 de outubro. Diversos horários. |
onde: |
19 unidades do Sesc em São Paulo. Consulte a programação no link acima. |
ingressos: |
Grátis. |