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Desafios de um editor

Foto: Leila Fugii
Foto: Leila Fugii

Sergio Cohn é editor e poeta. Nascido em São Paulo, em 1974, criou na década de 1990 a revista literária Azougue, que em 2001 deu origem à Azougue Editorial, editora responsável pela publicação de livros como Poesia.Br (2012) e a coleção Encontros, com trabalhos sobre Roberto Piva, Vinicius de Moraes, Boris Schnaiderman e Gary Snyder, entre outros. Como poeta, Sergio publicou Lábio dos Afogados (1999), Horizonte de Eventos (2002), O Sonhador Insone (2006) e Futebol com Animais (2013). A seguir, os melhores trechos do depoimento de Sergio, no qual ele fala sobre mercado editorial, livros digitais e poesia brasileira contemporânea.


Sergio Cohn esteve presente na reunião do Conselho Editorial da Revista E no dia 13 de abril de 2016

Mercado

A gente vive um momento muito especial de pensar o que é o editor. O digital, a internet, a baixa tiragem e a autopublicação trouxeram um impacto e colocaram em crise essa figura do editor. Quando a Azougue começou, nos anos 2000, a internet no Brasil ainda não era tão forte, e, naquele momento, todo “não” que eu dizia para um livro poderia significar que aquele livro não iria circular. Hoje, isso mudou. Há outras maneiras para aquele livro estar acessível. Tirou-se o peso do editor de ser um filtro quase definitivo do que é publicado ou não, mas se gerou essa ideia de que nós não somos mais tão necessários.

Fui entendendo e descobrindo que o editor não é um publicador. O editor é uma usina de encontros, projetos, trocas de ideias. Para uma editora sobreviver no século 21, ela não pode ter como fim a publicação de livros apenas. A publicação de livros é um elemento. A fruição de um editor, hoje, é gerar encontros, constituir conteúdos, resgatar conteúdos, ou seja, uma questão muito diferente de simplesmente pegar um original, tratá-lo e publicá-lo. Esses trabalhos são muito importantes, mas é fundamental pensar a editora como um espaço de constituição de novos encontros e conteúdos.

Circulação

Um dos grandes desafios no Brasil hoje, quando você é editor, é que cada vez são mais escassos os pontos de circulação de seus conteúdos. As livrarias tendem a fechar, os livros ficam à margem das políticas públicas brasileiras, e é necessário se criarem alternativas para isso. A circulação, hoje, tem que ser pensada. A gente não pode ficar preso à situação de precariedade que nos foi imposta.

Na Azougue, temos dois projetos que são tentativas de responder a isso. Um deles é a ideia dos book trucks, que são Kombis que funcionam como livrarias, com a ideia de circular pela cidade, pelas universidades e por espaços coletivos levando acesso ao livro. Outro projeto é uma coleção de poesia por assinatura, em parceria com uma editora chamada Cozinha Experimental, com a ideia de cada livro ter uma antologia de 30 poemas e a entrevista com o poeta.

Livros digitais

O e-book ficou em um “não lugar”, digamos assim. Ele não é tão mais barato do que um livro impresso para valer a pena. A gente tem uma demanda de livros no Brasil que não está sendo inteiramente atingida. O e-book barato poderia ser uma forma de mudar essa curva. Para conseguir esse acesso, acho que só o e-book, assim como só as bibliotecas, não resolve.

É preciso um ataque em diversas frentes. Existem empecilhos para fazer o e-book crescer no Brasil. O e-book, por exemplo, tem a questão dos readers [aparelhos necessários para a leitura dos livros digitais]. Eu não consigo imaginar as pessoas comprando readers no Brasil como se compra lá fora.

Poesia

Para mim, a poesia brasileira está vivendo o seu momento mais forte desde os anos 1970, na qualidade da poesia, na capacidade da intervenção da poesia e também no acesso ao público, na intervenção com a sociedade. Eu via a autopublicação, o livro digital, a circulação por blogs, e não conseguia entender o retorno disso para a leitura de poesia. Demorou, mas agora isso tem ficado visível. Você tem autores que vendem tiragens que autores jovens da década de 1990 não vendiam. Isso já é muito interessante.

Quando vou publicar livros de poesia na editora, é possível notar que existem poucos poetas que sabem fazer livro. Por isso, o diálogo com o editor é fundamental na qualificação daquele produto, digamos assim. Às vezes você lê um poema, percebe que um verso está destoando completamente e aponta isso para o autor. Esse diálogo, que às vezes é muito simples, é importante para a qualificação do livro. O Roberto Piva tinha uma frase maravilhosa. Ele dizia que um livro de poesia era um cartão de visitas, já que o leitor geralmente era pego por um poema. Os livros dele tinham 20 poemas, a concisão estava nessa preocupação de acesso ao leitor e estava certíssimo. Livros de poesia grandes geralmente não funcionam, o que funciona são livros em que é possível entender rapidamente aquele diálogo.

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