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13 reasons why: quando um tabu torna-se o assunto mais comentado
Suicídio ainda é um tabu social. Ainda é visto por muita gente como um sinal de egoísmo e fracasso, gerando sentimentos de culpa, vergonha e incompreensão, razão pela qual as ocorrências tendem a ser ocultadas, o que inclusive dificulta a sua mensuração. Se para a moral judaico-cristã trata-se de um pecado mortal, em tempos de redes sociais, em que todos devem exibir sua felicidade para todos, o suicídio torna-se um pecado maior ainda.
Entretanto, para além do estigma, o suicídio reflete realidades muito diversas. Atinge desde pessoas com transtornos mentais e jovens depressivos até pessoas que, satisfeitas com a vida até então vivida, decidem que não vale a pena prolongá-la a qualquer custo e tomam uma decisão racional e serena.
Por outro lado, apesar dessas experiências todas serem únicas, mais do que um fenômeno individual, o suicídio é um fenômeno social e cultural, cujos índices variam de sociedade para sociedade, no tempo e no espaço, a ponto de se falar de momentos em que se observa uma verdadeira epidemia de suicídios, encarada como um problema de saúde pública.
Um dos fatores que pode ter influência na elevação das ocorrências de suicídio são os meios de comunicação de massa, que, noticiando nos jornais ou retratando a prática na ficção, supostamente causariam um efeito de imitação denominado de “efeito Werther”, em virtude da onda de suicídios que acometeu jovens europeus após a publicação de “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe, no fim do século XVIII. Esta seria outra razão pela qual o tema do suicídio se tornou um tabu. Entende-se que ao se falar sobre ele, a profecia se autorrealiza.
Mas apresentariam os meios de comunicação de massa de fato esse efeito? A grande repercussão da série da Netflix “13 reasons why” e notícias relacionando-a ao aumento de suicídios ou de tentativas e de procura de serviços de valorização da vida levantaram novamente esta hipótese. Seriam os jovens o grupo mais vulnerável às mensagens midiáticas? Afinal, esses mesmos meios de comunicação, além de videogames, são comumente acusados de glamourizar e estimular um comportamento violento entre jovens.
Os Estudos Culturais deslocaram o foco da análise do emissor para o receptor da mensagem, relativizando e problematizando a ideia corrente de que o público seria passivamente manipulado pelos meios de comunicação. Dependendo do contexto social, do repertório simbólico, dos valores compartilhados e da ideologia política, a mesma mensagem seria recebida de uma forma ou de outra. Sendo assim, a eventual influência dos meios de comunicação poderia ser, no máximo, mediata. Por essa razão, houve quem atribuiu à série “13 reasons why”, no máximo, o papel de gatilho para quem já apresentava tendências suicidas.
Diversos artigos foram escritos nos jornais e diversos especialistas foram consultados para darem os seus pareceres em relação ao suposto efeito Werther de “13 reasons why” nas últimas semanas. As redes sociais foram tomadas de comentários sobre o assunto, que extrapolou o ambiente virtual e ocupou também rodas de conversa em bares, reuniões, festas e escolas. E assim, o que era tabu passou a ser um dos assuntos mais debatidos do momento.
A complexidade e especificidade do tema pediam, portanto, que o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc o abordasse convidando para tanto um professor que tivesse estudado profundamente o tema, que tivesse uma formação interdisciplinar e conhecesse tanto o enfoque de quem participa da criação de uma série de TV quanto o de quem a analisa criticamente. Rodrigo Ferrari, o professor convidado, que fará a palestra “13 reasons why e o efeito Werther” no dia 04 de maio, de 19h30 a 21h30, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, é mestre em Ciências pela FIOCRUZ com a dissertação "O suicídio no cinema: os filmes de ficção e o problema da prevenção". Foi professor de roteiro da Escola de Cinema Darcy Ribeiro e roteirista das séries de TV "A Garota da Moto" (SBT e FoxLife), "Copa Hotel" (GNT), "Quase Anônimos", "Open Bar" e "Os Gozadores" (Multishow).
Para contribuir com o debate e ampliá-lo de forma democrática e responsável, no dia 4 de maio o Sesc transmitirá ao vivo a aula em sua página no Facebook e abrirá espaço para que o público da internet faça perguntas ao professor.
Danilo Cymrot
Doutor em Criminologia pela Faculdade de Direito da USP e pesquisador do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc em São Paulo