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Deslocamentos em Performatus #2
Ouvem-se gritos: “Estou bem”!
Ao se aproximar de uma paisagem desconhecida, o visitante se encontra em um ambiente de erupções. Eclodem imagens e ações, a princípio, reconhecidas. Porém, o contexto e o conjunto elaborado traz o estranhamento, às vezes combinado com aversão, às vezes com simpatia. O caminhante nesse território se envolve com cautela. São períodos densos e esse grito ecoa de histórias longínquas desde o pós-guerra europeu, com os artistas engajados da segunda metade do século XX e chegando a regimes totalitários no Brasil. Não são fantasmas ensombreados, mas luzes que clareiam trevas que perpassam gerações.
Enquanto cacos de vidro e cinzas ao chão, cheiros preparados de suor, maquiagem, bebida e esmalte podem desenhar uma energia de lascívia, a sonoridade em alto e único tom, acompanhados de estopins de tiros, agudos teremins, gritos bárbaros e imagens fortes aparecem fazendo renascer a sensibilidade e a consciência crítica, feito fênix, desnudando no fogo sensações de felicidade diante da possibilidade de igualdade e respeito entre os seres do planeta.
Pedro Galiza por Ingrid Vale
O percurso simbólico exige uma escalada intensa. O gosto de vinho sangue na boca, os cabelos lisos e panquecas voluptuosas enjoam, mas instigam adentrar a labirintos floridos, com seus perfumes, com seus espinhos.
Os riscos pessoais a que se lançam os artistas da performance, trazem uma mirada impressionante, onde o óbvio é um artifício que engana na superfície e deslumbra na profundidade. Em uma sobreposição fantástica, mas que se direciona aos acontecimentos reais, ações performáticas constroem a viagem rumo ao devir contemporâneo, onde os crimes contra humanidade e fobias aos seres são combatidos energicamente a partir de acionamento de múltiplos códigos artísticos, logo políticos, educativos e sociais.
Yara Pina por Yara Pina
A partir de longo processo de elaboração de programação na linguagem da arte da ação - ou performance arte - o Sesc Santos transcorreu ações com o Festival Mirada, o projeto CorposubCorpo, as formativas do Lab Livre Performance e com a Mostra Performatus #2. Ao aterrissar nesse continente sem fronteiras definidas, onde os limites entre artes cênicas, artes visuais e tecnologias estão borrados, transbordando significados livres, o Sesc convida o público à interpretação e criação conjuntamente com as obras.
Desfrutando de experiências novas, fica aberto o portal do aprendizado e questionamentos transformadores de padrões reproduzidos acerca da arte, do corpo, das relações, da sociedade e do ambiente. O risco, aqui é bem-vindo!
Acesse a programação completa da Mostra.
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Leonardo Nicoletti
Arte-educador, gestor cultural, curador de artes cênicas e programador de teatro do Sesc Santos.