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Mulheres high tech!
Desafiando preconceitos, cada vez mais elas se destacam nas áreas de tecnologia
No primeiro dia de aula de Gedeane Kenshima no Curso Técnico em Automação Industrial, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) em Guarulhos, o funcionário que fazia um tour pela escola com os novos alunos separou-os em grupos para conhecer os laboratórios. “Quando fui para o lado da automação, ele me disse: ‘Nossa, mulher fazendo automação? Vai ser das primeiras a desistir’”, recorda Gedeane, que também teve de encarar estudantes em grupos de redes sociais lhe recomendando buscar algo “mais fácil”. Segundo a pesquisadora, que realizará a oficina Bordando Leds no Sesc Santos, em setembro (leia o boxe Juntas e Misturadas), o senso comum dizia que a eletrônica era “coisa para homens”.
Por causa desse pensamento, a ONU Mulheres fez um alerta global no começo do ano: as mulheres estão fora dos principais postos de trabalho gerados pela revolução digital. Questão que foi debatida no encontro Por um Planeta 50-50 em 2030: Mulheres e Meninas na Ciência & Tecnologia, para celebrar o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, em 11 de fevereiro.
No evento, a gerente dos Princípios de Empoderamento Econômico da ONU Mulheres Brasil, Adriana Carvalho, destacou o potencial de meninas e mulheres nas exatas: “74% das meninas têm interesse em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Mas o fato é que apenas 30% das pesquisadoras do mundo são mulheres”.
Tendo em vista esse quadro, Kenshima aposta na força feminina para conduzir a ciência e a tecnologia a novos passos. “Espero que despontem muitos talentos nas áreas de tecnologia, desenvolvimento, ciências e pesquisas. Também espero que meninas e mulheres não se tratem como inferiores, que olhem para si mesmas e vejam seu imenso potencial”, complementa a engenheira.
Potência coletiva
Assim como Gedeane, cada vez mais mulheres realizam trabalhos e formam grupos que visam mostrar que elas também estão à frente de pesquisas, serviços e intervenções no campo da tecnologia. Esse é o caso da InfoPreta, que desde 2015 trabalha na capital paulista com colaboradoras negras e participantes de minorias na prestação de serviços tecnológicos feitos por mulheres – desde restauração, backup, formatação de computadores, conserto e montagem de computadores a realização de cursos, palestras e workshops de tecnologia, empreendedorismo e inovação.
Outro exemplo é a Coletiva Hacker Feminista MariaLab, voltada para mulheres trocarem informações e conhecimentos sobre tecnologia. “A discussão hoje – falo como coletivo e por mim – não parte só do que a tecnologia pode fazer no sentido do empoderamento ou de inclusão nas universidades e no mercado de trabalho. Vivemos numa sociedade da informação em que todas as infraestruturas tecnológicas acabam moldando um modelo de interação entre as pessoas e pautando os direitos de pessoas vulneráveis historicamente, como pautas migratórias, pautas da militância trans, pautas do movimento negro como um todo”, analisa a programadora Fernanda Monteiro, uma das fundadoras da MariaLab. “Então, a gente precisa pensar num futuro em que essas tecnologias possam também pautar esses temas no sentido de qualidade de vida, de cuidado e fortalecimento de redes.”
Tendo em vista esses objetivos, e depois de constatar que muitos dos espaços de tecnologia hoje existentes ainda são predominantemente masculinos, a MariaLab realiza oficinas e palestras em São Paulo para educar meninas e mulheres em eletrônica, programação, raciocínio lógico e outras ações que envolvam o uso e desenvolvimento de tecnologias. “O futuro que vislumbro é aquele em que em algum momento a gente não precise falar de gênero ou de ações afirmativas para populações vulneráveis. Espero viver numa sociedade capaz de criar outros modelos: comunidades de mulheres sustentáveis e autônomas”, complementa Monteiro.
Você sabia?
Filha de Lord Byron, um dos maiores poetas da língua inglesa, e da matemática e escritora Annabella Byron, Ada Lovelace (1815-1852) foi a primeira programadora da história. Sua mãe a conduziu para o mundo da ciência desde muito jovem. Algo raro para as mulheres da época. Em 1843, Lovelace traduziu os trabalhos do matemático Charles Babbage, que inventou o primeiro computador genérico, chamado de Analytic Machine. No entanto, os apontamentos deixados por Ada têm mais conteúdo do que a tradução do trabalho de Babbage. A partir dessas anotações, ela desenvolveu o primeiro programa de computador do mundo.
Foto: Marizilda Cruppe.
Juntas e misturadas
Cursos, debates e outras ações promovem aprendizado e troca de experiências entre mulheres na área da tecnologia
Na mesa-redonda Mulheres na Ciência, durante a 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em julho passado, foram debatidos os resultados da pesquisa Gender in the Global Research Landscape (Gênero no Cenário Global de Pesquisa, em tradução livre), divulgada em 2017 pela editora Elsevier.
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e vice-presidente da SBPC, a professora titular do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Vanderlan Bolzani complementou: “Um reflexo disso [da baixa representatividade feminina na ciência] está na mais importante sociedade científica do país, a SBPC, que ao longo de seus 69 anos teve apenas três mulheres na presidência”, disse no artigo Mulheres na Ciência: Por Que Ainda Somos Tão Poucas?, apresentado no evento.
Essas discussões impulsionam a necessidade de ações como as que são realizadas nos Espaços de Tecnologias e Artes (ETAs), do Sesc São Paulo. Neles, 78 profissionais, entre estes 31 educadoras, conduzem atividades voltadas para a inclusão de mulheres de todas as idades no âmbito da tecnologia e das ciências. O tema da inclusão de gênero já permeia a programação regular dos ETAs em projetos como: Empodera! (Sesc Osasco), Garota Hacker Clube (Sesc Consolação), Mulheres Makers (Sesc Ipiranga) e o DeGeneradas (Sesc Santana).
“Atividades como as que temos articulado no Garota Hacker Clube, com recortes específicos para mulheres idosas, mães solo e mães negras, miram tanto a experimentação das mais diversas formas de artes e tecnologias como a visibilidade desses grupos e suas questões”, explica Ana Paula Fonseca, educadora do ETA do Sesc Consolação. “Sem isso, apenas se acentuam as assimetrias de poder.”
Confira algumas ações em destaque na programação de setembro:
SESC SANTOS
Bordando Leds (Dias 29 e 30/9)
A oficina exclusiva para mulheres, ministrada pela engenheira de Controle e Automação e técnica em Automação Industrial pelo IFSP Gedeane Kenshima, propõe a integração da eletrônica criativa com a costura, estilo bordado.
SESC 24 DE MAIO
Futuros Possíveis (Dia 30/9)
Quatro mulheres falam sobre o desafio de pensar o futuro e compartilhar suas pesquisas e práticas relacionando gênero, mercado de trabalho, tecnologias e artes, sob mediação de Vanessa Mathias, fundadora da White Rabbit.
SESC CONSOLAÇÃO
Garota Hacker Clube:
Tecnológica, Sim, Senhora! (De 10 a 14/9)
Mediada pela roteirista e ilustradora Ana Paula Anderson, instrutora do ETA do Sesc Consolação, a atividade convida mulheres idosas para uma roda de trocas e dicas para inclusão da tecnologia no seu cotidiano.
SESC IPIRANGA
Drone - Mulheres
no comando (Dia 2/9)
Nesta oficina ministrada pela cinegrafista e documentarista Fernanda Ligabue, os participantes terão contato com a produção de imagens aéreas por meio do uso de drones (aparelhos voadores não tripulados).
SESC AVENIDA PAULISTA
Perspectivas sobre as mulheres e as tecnologias (Dia 1º/9)
Para o debate de abertura da atividade Tecnologias e Artes em Rede: As Mulheres e as Tecnologias, foram convidadas quatro mulheres que desenvolvem pesquisas e experiências educativas na área, sob mediação da jornalista Giuliana de Toledo, editora da revista Galileu.
SESC BELENZINHO
Conserto e manutenção básica de computadores (Dias 18, 20, 25 e 27/9)
Neste curso os participantes vão aprender lições básicas sobre itens e peças que compõem os computadores, além de formas simples de realizar pequenos consertos, com integrantes da empresa Infopreta.