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Além das Asas
Foto: Alexrandre Nunis.
Seu nome guarda incógnitas que historiadores tentam decifrar. Para alguns, deriva da denominação dada pelos portugueses aos indígenas da etnia Goitacaguaçus, que com o tempo passaram a ser chamados Guaçus, depois Guarus. Há também aqueles que afirmam ser “guaru” um tipo de peixe barrigudo, abundante no rio Tietê. Outros dizem que esse mesmo nome significa “índio barrigudo”. Mas o fato é que a 13ª cidade em população do país reelabora continuamente seu significado e vocação desde que foi fundada, no dia 8 de dezembro de 1560, pelos jesuítas.
Séculos se passaram, e a segunda cidade mais populosa do estado de São Paulo, que já foi norteada pela agricultura, mineração, criação de gado e até mesmo pela produção de aguardente, finalmente ganhou asas. Da década de 1950 para cá, com a aceleração industrial do país, Guarulhos deixou de ser uma “cidade dormitório” para fomentar um novo contexto social, econômico e cultural. Seja como referência em moradia popular pelo Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, conhecido como Cecap, seja como polo de jovens artistas e celeiro de músicos, ou por embarcar e desembarcar 42,2 milhões de passageiros (somente em 2018) no Aeroporto Internacional de São Paulo, o maior do país. Conheça alguns capítulos e personagens desta cidade que em 2019 completa 459 anos.
MORADIA POPULAR
O bloco Paraná, do Conjunto Habitacional Cecap, projeto de Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha. Foto: Boris Karpuk.
Concebido pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, conhecido como Cecap, é considerado um marco da habitação social no país. Projeto modernista idealizado por Artigas no final da década de 1970, ele teria em seus arredores uma infraestrutura completa de educação, saúde, lazer e comércio. Aliás, o nome Cecap vem de Caixa Estadual de Casas para o Povo, responsável pela construção do conjunto habitacional, mas que não entregou a obra completa aos primeiros moradores que chegaram ao bairro em 1972. A construção foi finalizada somente no início dos anos 1980. Foram erguidos 10 blocos, todos eles com nomes de estados brasileiros: São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Alagoas. Cada bloco é formado por dois prédios de três andares cada um. Outro ponto importante é a sustentação dos edifícios por pilotis, que são pilares de concreto armado que criam um vão livre no térreo, a exemplo dos blocos das superquadras de Brasília. No Cecap também há uma praça que homenageia a banda Mamonas Assassinas, inaugurada em 1996. Apesar de seus integrantes não terem morado no bairro, reuniam-se por lá.
SOM AO REDOR
Armando Colacioppo lecionando no Conservatório de Guarulhos, década de 1960. / Arquivo Conservatório Musical Guarulhos.
Essa história começa no bairro de Santana, Zona Norte de São Paulo, até ser escrita em Guarulhos. Foi em Santana que o maestro Armando Colacioppo nasceu, estudou, morou, e onde a música mudou os rumos de sua família. Influenciado pelo pai, um cirurgião dentista descendente de italianos apaixonado pela música, o maestro e seus seis irmãos enveredaram pelo caminho das partituras. “Meu pai achava que esse era o antídoto para afastar os filhos das más companhias”, recorda Armando, que aos 14 anos viu o irmão mais velho fundar um conservatório musical na Rua Voluntários da Pátria. A dedicação e vocação para a música levou a família a ser convidada na década de 1960 para implantar o Conservatório Municipal de Guarulhos, a convite da prefeitura. Armando foi o primeiro diretor da instituição. “Um ano e meio depois, só aquele conservatório era pouco para tanta gente que tinha o sonho de tocar algum instrumento. E as vagas não eram tantas”, conta. Foi aí que Armando decidiu criar, aos 22 anos de idade, um novo conservatório, dessa vez particular. Hoje esse conservatório celebra 56 anos e três gerações de músicos. Armando ainda dá aulas de canto, piano, acordeão, órgão, clarinete, saxofone, piston e violino. Além dos pupilos do maestro, outros jovens músicos da região ganham destaque. Caso do trompetista Erick Venditte, que em 2018 foi vencedor de quatro competições: Prêmio Eleazar de Carvalho, Prelúdio da TV Cultura, Ictus International Trumpet Competition e Jovens Solistas da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo.
ARTE NA RUA
Foto: Rim Chiaradia.
Inspirado pelas formas geométricas do Cubismo, o artista Ricardo Chiaradia, conhecido como Rim, desafia o concreto das ruas de Guarulhos. Munido de sua arte e das latas de spray, ele colore o Bosque Maia, conjunto habitacional onde mora desde 1980, e outros espaços do município. São desenhos de rostos humanos e formas abstratas que remetem, em muitos casos, a seres da água. “Consegui criar um diálogo com o espaço urbano. Tanto que tenho um trabalho meu que chama Guaru, peixe de água doce característico daqui. Aliás, para mim o nome da cidade vem da relação com o peixe e a água”, afirma. Antes de se dedicar ao grafite, Rim trabalhou como office boy. O hobby só foi virar profissão depois que em 1994 pintou a rua do bairro, com outros amigos, bem na época da Copa do Mundo. Hoje Rim é conhecido na cena da arte urbana da cidade.
OUTROS DESTINOS
Foto: Delfin Martins/ Portal da Copa.
Ele já foi um grande campo verde até se tornar o mais importante terreno para pouso e decolagem de aeronaves do Brasil. Inaugurado em janeiro de 1985, o Aeroporto Internacional de São Paulo, ou Aeroporto de Guarulhos, foi rechaçado pelos moradores, principalmente do bairro de Cumbica (nome pelo qual também é conhecido), onde seria erguido. A poluição sonora e a neblina – Cumbica é um nome tupi que quer dizer “nuvem baixa” ou nevoeiro – eram consideradas grandes problemas a serem enfrentados. Desfeitas as incertezas, esse aeroporto realiza cerca de 830 operações que movimentam 120 mil passageiros entre o céu e a terra diariamente. Primeiro lugar no Brasil no ranking de passageiros e um dos mais movimentados da América Latina, o Aeroporto de Guarulhos recebeu 42,2 milhões de passageiros em 2018, segundo dados da empresa que o administra, a GRU Airport.
Sesc Guarulhos
Nova unidade atenderá 4 mil pessoas por dia e será ponto de encontro para o município e regiões próximas
A partir do dia 11 de maio, o bairro Jardim Flor do Campo será o endereço da 44ª unidade do Sesc São Paulo. Construída em uma área de 34,2 mil m², o Sesc Guarulhos receberá 4 mil pessoas por dia. Por sua localização estratégica, essa nova unidade nasce com vocação para ser um ponto de encontro de toda a região – não apenas dos moradores de Guarulhos, mas também de moradores de municípios vizinhos e de bairros próximos, nas zonas Norte e Leste de São Paulo.
Sua infraestrutura, assim como a de outras unidades do estado, abrange diversos equipamentos. Entre eles: um teatro de 349 lugares, ginásio poliesportivo, campo de grama sintética, quadra poliesportiva, quadra de tênis, centro de educação ambiental, biblioteca, centro de música, área de exposição, espaço de brincar, sala de ginástica, espaço de tecnologias e artes, clínica odontológica, conjunto aquático com piscina semiolímpica coberta e piscinas descobertas.
Para abrigar esses espaços, e oferecer uma programação diversificada, a nova unidade foi construída em três pavimentos, respeitando as questões socioambientais da cidade e priorizando a acessibilidade universal. Entre os exemplos da construção sustentável do Sesc Guarulhos está uma estação de tratamento de esgoto, cobertura verde e placas solares para aquecimento da água da piscina e dos chuveiros, além do reaproveitamento do calor residual do sistema de ar condicionado também para o aquecimento da água.
Uma das vocações desta unidade é a música. Ao todo, serão quatro salas de atividades coletivas e dez salas para atividades individuais, além de cursos de iniciação e de aperfeiçoamento musical, vivências e encontros com músicos. Também serão oferecidos cursos em áreas técnicas que envolvem a produção de eventos musicais. Ainda no campo das artes, o Sesc Guarulhos abrigará obras de importantes nomes da arte contemporânea, como Adriana Varejão, Sidney Amaral e Carlito Carvalhosa.
Segundo o diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, a inauguração do Sesc em Guarulhos amplia a capacidade de atendimento para oferecer aos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo e ao público em geral a oportunidade de desfrutar de uma série de programas e atividades que proporcionam o aprendizado, o encontro e o diálogo. “A entrega de um novo equipamento à população reafirma o compromisso da instituição em ser promotora do bem-estar coletivo nas comunidades em que atua, e também facilitadora do acesso de todos à vivência plena da dinâmica cultural de sua cidade e região”, complementa.