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Esqueça o velho imaginário sobre o Nordeste. Embora ainda seja recorrente associá-lo à representação da seca, da fome, do movimento histórico do cangaço ou a outras imagens e ideias cristalizadas, o olhar sobre essa região vem se reconfigurando. É o que explica Bitu Cassundé, um dos curadores da mostra À Nordeste (leia o boxe Reinvente essa ideia). Para ele, é patente a pluralidade de imagens e paisagens que constitui esse universo simbólico, recriando formas e cores, geometrias e organicidades. “O mais absurdo é ainda evocarmos as mesmas imagens, as mesmas questões, os mesmos dramas em torno da região”, afirma. “Existem outros Nordestes, outras narrativas, outras oralidades, outros desejos, outras crenças, e foi justamente nesse corpo ‘outro’ que a exposição se interessou.”
 

Na estrada

Como parte da pesquisa para a exposição, os curadores Bitu Cassundé, Clarissa Diniz e Marcelo Campos viajaram pelo Nordeste no segundo semestre de 2018. Para eles, a experiência serviu para vivenciar os ecos históricos e insurgentes da região. O imaginário construído daquele espaço físico foi ancorado no Brasil colonial dos senhores de engenho. Depois que o ciclo econômico do açúcar entrou em declínio, a ascensão da mineração e da cultura do café redirecionou o foco de desenvolvimento para o Sudeste, que então se transformou em centro econômico e político.

Como meio de ampliar o horizonte de representações possíveis do Nordeste, Clarissa Diniz menciona a produção de artistas locais versando sobre a urbanização, injustiça social, racismo, machismo, colonização, urbanismo, internet, globalização e sexualidade. “Alguns desses temas, ainda que presentes ao longo do século 20, só agora adquirem mais relevo e visibilidade e, por isso, a produção de arte feita no Nordeste pode nos surpreender ao endereçar nossa atenção a aspectos ainda incomuns aos estereótipos sobre a região”, diz.
 

Reinvente essa ideia

Em exposição, um novo olhar sobre circunstâncias históricas, sociais e culturais que fazem o Nordeste ser o que é

Até 25 de agosto é possível olhar À Nordeste, exposição em cartaz na unidade 24 de Maio, composta por obras de arte, peças e experiências de contextos e vocações diversas que imaginam, inventam e reconstroem o Nordeste do Brasil. Interdisciplinar, lança nova luz sobre as circunstâncias históricas, sociais e culturais da invenção de uma ideia de Nordeste. Com curadoria de Bitu Cassundé, Clarissa Diniz e Marcelo Campos, a mostra dispõe de audiodescrição, videoguia em Libras com legendas, recursos táteis, pranchas de comunicação alternativa e impressão dos textos em dupla leitura (português ampliado e Braille). Há uma programação integrada que se desenrola durante a exposição.

Entre as atividades, no dia 13 de julho, acontece o curso gratuito Acessibilidade em Exposições: À Nordeste, um panorama de discussão de projetos expositivos acessíveis e programas educativos inclusivos para pessoas com e sem deficiência e públicos não usuais; no dia 18/7, é a vez de DJ Paulinho_ Bolacha Arretada: Discotecagens de Forró em Vinil, das 19h às 20h30; entre 16 e 19/7, das 19h às 21h, está prevista a Declamação de Textos de Pasolini – a partir da obra do cineasta e poeta, Marcelo Evelin e Matteo De Blasio desenvolverão uma performance dentro do espaço expositivo.

De acordo com Marcelo Campos, políticas socioculturais colocaram o trabalhador da região em franca mobilidade, “não mais fugindo da seca, mas acessando universidades, com a política de cotas repensando a ferida colonial ainda aberta, protagonizando o contingente negro, inclusive, nas artes visuais”. Um exemplo é o trabalho da dupla Kaick & Alan, alunos do curso de Artes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. “Assim, de fato, não é difícil cartografar o medo que causa uma produção consciente que, em pouquíssimo tempo, pode ter muito a nos dizer sobre o Brasil”, completa.
 

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