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Repentistas, brinquedos e a cidade que não quer crescer
O artista, de modo geral, é pouco afeito a formalidades burocráticas. No caso dos repentistas, porém, o reconhecimento, por lei promulgada em 2010, de sua atividade como profissão foi muito bem recebido, já que se tratava de uma reivindicação antiga da classe. A reportagem de capa desta edição traz um pouco do universo desses cantadores e violeiros, muitos dos quais ganham a vida se enfrentando em desafios em que a criatividade determina o vencedor.
Este número fala também da inusitada situação de Sorocaba, município do interior paulista que, na visão de suas autoridades, está crescendo demais e, por essa razão, não quer mais receber indiscriminadamente fábricas em seu território. Segundo o prefeito, Vítor Lippi, se não houver um arrefecimento no ritmo atual, existe sério risco de a população ver seus indicadores sociais, atualmente em bons níveis, despencarem.
Como consequência, de agora em diante ali somente serão bem-vindas empresas-âncoras e de alta tecnologia, sendo direcionadas as demais a cidades vizinhas, cujos índices de industrialização são mais baixos. Ainda na área econômica, apresentamos mais duas boas notícias. Uma delas se refere à expansão do setor de brinquedos, que vem desenvolvendo estratégias para continuar enfrentando a forte concorrência chinesa. A outra mostra que companhias multinacionais de diversos segmentos industriais estão montando centros de pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Esse fato, além de deixar evidente a importância que o país vem assumindo no cenário mundial, traz ótimas perspectivas não somente em termos de formação e qualificação de mão de obra mas também na mais do que necessária aproximação entre empresas e universidades.
Apesar desses e de outros avanços que a sociedade brasileira vem conseguindo em variadas frentes nos últimos anos, algumas conquistas ainda se mostram difíceis de alcançar. É o que se constata ao examinar o balanço de uma década do Estatuto da Cidade. Embora não se possa negar que ocorreram melhorias em algumas áreas, os grandes centros do país, em sua maioria, são exemplos de falta de planejamento e apresentam problemas sérios relacionados a moradia, coleta de esgoto, abastecimento de água, trânsito, gestão do lixo etc. Se a lei que entrou em vigor há dez anos tinha como objetivo colocar ao alcance do cidadão uma boa infraestrutura urbana, dando a ele a oportunidade de usufruir de transporte e serviços públicos decentes,
sem com isso comprometer o meio ambiente e o futuro das próximas gerações, chegamos à conclusão de que ainda estamos bem distantes da meta proposta.
Abram Szajman
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac