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A ilha verde
por Bianca Pyl e Spensy Pimentel
Em 1967, o escritor Antonio Callado lançava o romance Quarup. O título foi tomado da cerimônia fúnebre que constitui o cerne da mais conhecida festa comunitária realizada entre os grupos indígenas do Alto Xingu. A região encantou os brancos desde os primeiros relatos no século 19 e, entre os anos 1940 e 50, após as expedições comandadas pelos irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas, ficou celebrizada pela luta que se travou, ao longo de quase uma década, pela demarcação do Parque Nacional Indígena do Xingu, finalmente assinada 50 anos atrás, em 4 de abril de 1961, pelo presidente Jânio Quadros.
A certa altura do romance de Callado, os personagens participam de uma expedição para encontrar o centro geográfico do país, em pleno coração do Xingu. Latitude 10º 20’ sul e longitude 53º 12’ oeste, localiza o personagem Fontoura, ao chegar ao lugar. Na história, o exato local do centro estava tomado por um enorme formigueiro, repleto de saúvas. Bêbado, Fontoura se encanta ao colocar o ouvido no chão para ouvir as batidas do “coração do Brasil” e morre, picado pelos insetos.
Quando Quarup foi lançado, o formigueiro de Callado no coração do Brasil fazia mais sentido como metáfora do complicado processo político da ditadura militar que o país vivia. Afinal, para toda uma geração de brasileiros, o parque era apresentado como uma espécie de paraíso, sinônimo de preservação socioambiental e da possibilidade de construção de um país que conciliasse diversidade cultural e desenvolvimento.
A atual onda de crescimento econômico, sustentada, em boa parte, pela produção de commodities agropecuárias, como soja, carne e cana, e geradora de uma demanda cada vez maior por energia elétrica, está mudando tudo isso. O Xingu, hoje, vive ameaçado pelas saúvas do progresso.
Sérgio Vahia, de 83 anos, tem uma história pessoal ligada à região. O pai dele, Darcilio Vahia de Abreu, foi médico da Expedição Roncador-Xingu – organizada a partir de 1943 como parte da chamada Marcha para o Oeste. Por conta da ligação do doutor Darcílio com o Xingu, Sérgio lá esteve várias vezes nessa época, até que, em 1958, foi convidado a participar da missão que fixou um marco no centro geográfico do Brasil, comandada pelos irmãos Villas Bôas.
“Tenho muito amor por aquela região. Não há um dia em que não pense no Xingu”, diz Sérgio. Entre as façanhas que viveu por ali na juventude, ele lembra as caçadas de onça e o fato de ter sido o segundo branco a entrar na aldeia dos suiás, em 1959. Quando se deu conta, em 2008, de que a expedição completaria 50 anos, o hoje funcionário público aposentado decidiu refazer a viagem, dessa vez com seu filho, Tito Vahia. Na ocasião, Sérgio tinha 80 anos e fez parte do trajeto de muletas, devido a sequelas de um acidente de mergulho.
Entre setembro e outubro de 2008, eles percorreram 16 mil quilômetros, de carro, barco e a pé. O impacto foi tremendo. “Acho que, se não fosse a existência desse parque, os fazendeiros já teriam derrubado a mata até as margens do Xingu para criar bois e plantar soja”, afirma. “Desmatamento? Nem se fala. Fui de carro de Canarana até Querência e, em duas horas de estrada, não vi nem capim: só tem soja. Os fazendeiros estão secando tudo. Estão matando as águas, não respeitam as matas ciliares, é de chorar.”
O tamanho do estrago
Na paisagem mato-grossense, tomada pela produção agropecuária, o Parque Indígena do Xingu, com seus 2,8 milhões de hectares de vegetação preservada, ganha feições de uma “ilha verde”. Na área ao redor, em contraste, a parcela desmatada passou de 17%, em 1997, para 33%, em 2007, de acordo com dados da ONG Instituto Socioambiental (ISA).
Desde a década de 1980 surgiram no entorno do parque oito novos municípios, além de muitas fazendas e estradas. A região abriga hoje 6,5 milhões de cabeças de gado, além de mais de 30% das lavouras de soja de Mato Grosso. Na lista dos 41 municípios que mais desmatam na Amazônia Legal, estão presentes quatro dos dez que fazem divisa com o parque e oito dos que são banhados por rios da bacia do Xingu em Mato Grosso (Confresa, Feliz Natal, Gaúcha do Norte, Nova Ubiratã, Marcelândia, Peixoto de Azevedo, Vila Rica e São Félix do Araguaia). Entre 2000 e 2007, segundo o ISA, uma área equivalente à de Alagoas foi desmatada na porção mato-grossense da bacia do rio Xingu.
O maior problema é que, após muita pressão política, quando afinal foi criado, em 1961, o parque correspondia a apenas um quarto do tamanho inicialmente proposto, dez anos antes, deixando de fora as nascentes dos principais rios que banham as aldeias. Por isso, sobretudo, os 6,1 mil índios que ali vivem – dados da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) de 2009 – estão sendo violentamente afetados pelas transformações do entorno.
Em vários trechos dos afluentes do Xingu, ao sul do parque, o desmatamento alcançou as margens dos cursos de água, e uma enorme quantidade de agrotóxicos vem sendo lançada nos rios – sem falar nos detritos que causam assoreamento. Com o aumento do plantio de soja, nos últimos anos, a situação só fez piorar.
O governo federal vem apertando o cerco aos crimes ambientais, mas há muito desmatamento antigo na região das cabeceiras do Xingu, em áreas recentemente convertidas em lavouras de grãos. Quando boa parte dos colonos chegou a regiões como a de Canarana, nos anos 1970, o próprio Banco do Brasil financiava o chamado “correntão” (técnica agressiva, usada para derrubar rapidamente a mata, que utiliza correntes arrastadas por tratores) e o governo chegava a tomar de volta as áreas que não haviam sido devidamente “abertas”.
Uma iniciativa que ajuda a medir o tamanho do desafio para reverter os estragos na região é a campanha ’Y Ikatu Xingu (“Água Boa do Xingu”, em camaiurá), coordenada por organizações da sociedade civil desde 2004. O foco é o incentivo à recomposição das matas ciliares – que são áreas de preservação permanente (APPs) – no entorno do parque. Calcula-se que cerca de 300 mil hectares delas tenham sido destruídos ali até 2005. Segundo o Código Florestal Brasileiro em vigor, de acordo com a largura do curso de água, devem ser preservados de 30 a 500 metros de mata ciliar – e, no caso de nascentes, 50 metros.
Se considerada também a chamada “reserva legal”, porcentagem da propriedade que tem de ser mantida com vegetação original, a área a ser recuperada seria ainda maior. O cálculo exato depende das atuais discussões sobre o novo Código Florestal, em debate no Congresso. “Os produtores que estão chegando agora preferem esperar para ver o que vai dar em vez de já recuperar ou mesmo preservar”, explica Rodrigo Junqueira, coordenador da campanha ’Y Ikatu Xingu.
A região do Xingu é uma das que mais reflorestou áreas na Amazônia, nos últimos anos, de acordo com a campanha. Muito pouco, porém, diante da dimensão do problema: somente 2,4 mil hectares de APPs estão sendo recuperados, num total de 215 projetos em 22 municípios. O maior problema para envolver os proprietários rurais ainda é o custo (ao menos R$ 3 mil por hectare, usando-se novas técnicas disseminadas pela campanha). Atualmente, na prática, o financiamento público para o reflorestamento com árvores nativas não chega aos fazendeiros, que têm de arcar com os custos. Tampouco há destinação de recursos privados para essa finalidade. Apesar de algumas das maiores multinacionais do agronegócio atuarem na região, inclusive apoiando diretamente a produção de soja, segundo o coordenador da ’Y Ikatu Xingu nenhuma delas se dispõe a bancar iniciativas de restauração florestal: “A concorrência é desleal. Ainda há muito mais incentivos para continuar desmatando do que para fazer o que estamos fazendo”.
Embora faltem recursos para recuperar áreas, alguns já tomam consciência ao menos da necessidade de estancar a destruição. Em abril, o município de Querência, vizinho ao parque, saiu da lista dos maiores desmatadores do país, após um processo que durou dois anos e envolveu uma parceria entre a prefeitura local, fazendeiros e o próprio ISA, um dos principais articuladores da ’Y Ikatu Xingu.
O plantio mecanizado de florestas com utilização de uma tecnologia conhecida como “muvuca” vem sendo adotado, por exemplo, na Fazenda Bang-Bang, propriedade de 13,4 mil hectares localizada em São José do Xingu (MT). A muvuca é uma mistura de sementes de várias espécies florestais e de leguminosas de adubação verde, que protegem o solo enquanto as árvores crescem. Aprimorada por técnicos do ISA, permite recuperar grandes áreas a um custo bem mais baixo que o do plantio de mudas. De acordo com o proprietário da Bang-Bang, Luiz Carlos Castelo, ao todo já foram restaurados 353 hectares, desde 2006. O fazendeiro, que iniciou esse trabalho para se adequar à legislação ambiental, cria gado para corte (cerca de 12 mil cabeças) e planta soja e milho.
O caos bate à porta
Mesmo morando a centenas de quilômetros de distância das cidades da região, as populações indígenas sentem o impacto do desmatamento e do assoreamento dos rios na porta de casa. “Algumas pesquisas, não oficiais ainda, dão conta de que a qualidade da água está ruim. Podemos dizer que certas doenças, como câncer de estômago, para não citar as mais banais, como diarreia, podem ser consequência da contaminação do rio por agrotóxicos e fertilizantes usados no cultivo da soja”, diz Ianacula Rodarte, técnico agrícola da etnia camaiurá, de 55 anos, que é morador do parque. “O aumento da incidência de câncer de estômago, de acordo com dados de atendimentos nos postos de saúde da região, está concentrado no povo calapalo, que vive na área do rio Culuene. Porém, ainda não há números oficiais”, relata.
O estado de Mato Grosso é o maior consumidor de agrotóxicos do país, segundo dados divulgados pela equipe do médico Wanderley Pignati, da Universidade Federal de Mato Grosso. A detecção de contaminação por esses produtos ainda é difícil no Brasil, por conta da imensa variedade de substâncias usadas – algumas proibidas no país e contrabandeadas via Paraguai e Bolívia – e da necessidade de equipamentos sofisticados para realizar os exames, mas, no dia a dia, as comunidades sentem que há algo de muito errado acontecendo.
De modo geral, os índios notam que a natureza da região já está sendo afetada pelas mudanças ambientais e, independentemente de qualquer discussão sobre aquecimento global, a situação é grave. “Tem muita mudança no tempo, percebemos que cada vez está mais quente. Chove menos, ou então tem vento muito forte, de destruir”, conta Megaron Txucarramae, cacique dos caiapós da aldeia Piaraçu, que fica dentro do parque, no Baixo Xingu. “Hoje é difícil entender os sinais da natureza. Os peixes diminuíram, parece que estão acabando.”
Estranhos no paraíso
“A gente sente falta de nossa medicina tradicional. Os recursos que tínhamos em nossa terra, não temos no Xingu”, lamenta Kumaré Txicão, de 33 anos, presidente da Associação Moygu, da etnia icpengue.
Já faz 46 anos que os icpengues foram trazidos da região do rio Jatobá para dentro do parque, no Médio Xingu, pelos irmãos Villas Bôas. A terra de origem desse povo fica ao sul do parque. “Os mais velhos contam que meu povo estava guerreando com os fazendeiros que começaram a ocupar a região. Os sertanistas acharam que seria melhor para nós tirar a gente de lá e colocar aqui. Meu povo não queria sair de lá”, relata o jovem líder indígena, que nasceu no parque.
Atualmente os icpengues, um grupo de 480 pessoas, demandam à Funai suas terras na região do rio Jatobá. De acordo com Kumaré, o relatório de identificação da área reivindicada por seu povo encontra-se sob análise da fundação. O desejo de retornar ao local de origem do grupo surgiu em 2005, quando alguns índios da etnia foram à Terra Rorowalo (conhecida como Terra Indígena Jatobá) para buscar recursos naturais que não existem dentro do parque.
Kumaré conta que, inicialmente, a vontade de retornar dos mais velhos foi motivo de desavenças com os mais jovens, que não queriam deixar o parque. “Mas o tempo foi passando e vimos que era o melhor para a gente, para fortalecer nosso povo. Nossa terra está devastada por conta do plantio de soja, mas vamos recuperar.”
As diferenças entre as 16 etnias que vivem no parque às vezes geram pequenos conflitos. No caso do Alto Xingu, trata-se de dez grupos, de línguas distintas, mas com um histórico de práticas sociais comuns que vem de muito tempo antes do contato com os brancos, o que ajudava a amenizar os problemas e gerar consensos. Algumas das etnias deslocadas para dentro do parque, por sua vez, tinham um passado de confrontos com os grupos do Alto Xingu, o que, somado às pressões externas, acumulou tensões ao longo dos últimos anos.
“Os icpengues não querem branco passeando por sua aldeia, nada de turismo e retirada de madeira, como permitem alguns em troca de dinheiro”, acrescenta Kumaré, que relata já ter recebido pessoalmente propostas de empresários para aceitar a vinda de turistas.
Esse tipo de pressão denunciada pelo líder indígena ajuda a acirrar os problemas. “Isto aqui mudou muito desde a minha infância, principalmente na aproximação com os brancos. Há oito anos, eram todos mais unidos, tomavam as decisões juntos. Mas os homens brancos começaram a apresentar dinheiro, os povos cobiçam ter os mesmos produtos que os brancos. Agora desuniu tudo, cada um trabalha por si. Cheguei a presenciar troca de alimentos, peixe, ajuda nas roças das famílias, e esses tempos mudaram”, lamenta ele.
O jornalista Washington Novaes, observador antigo da região, também se espanta com as transformações sociais em decorrência da devastação do entorno. No fim dos anos 1970, ele conheceu o parque ao fazer um documentário para o programa de TV “Globo Repórter”. “Eu me encantei com os uaurás”, conta ele. Em 1984, Novaes foi convidado a fazer uma série sobre índios, para a TV Cultura. “Fiquei três meses por lá e visitei seis aldeias.”
Em 2006, Novaes retornou para ver a situação dos mesmos grupos. “Há muitos problemas, a cultura branca chegou muito perto, por conta do fácil acesso. Quando lá estive pela primeira vez não havia estradas ainda”, relata. As aldeias hoje contam com parabólicas, geradores, tratores, caminhões, motocicletas, constatou ele. “Muitos jovens não querem mais ser pajés, querem viver como jovens brancos, dançar forró, assistir televisão, ter computador. Eles passam a maior parte do tempo fazendo artesanato para conseguir renda e assim ter acesso aos bens de consumo dos brancos.”
Segundo Novaes, hoje uma das principais vozes na imprensa brasileira em defesa do meio ambiente, a situação no Xingu é reflexo de uma crise mais geral, em que valores e utopias estão sendo atropelados por um modo de vida predatório, que resulta num consumo excessivo dos recursos naturais e provoca mudanças climáticas. “Temos de dirigir nosso olhar para lugares onde se vive outro modelo de vida, como no Parque Indígena do Xingu. Devíamos nos voltar para essa terra e nos inspirar para o futuro. O Brasil está tratando mal seu coração e com isso está tendo muitos problemas cardiovasculares.”
Pikuruk Kayabi, presidente da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix), conta que o parque está sendo muito assediado, principalmente por turistas estrangeiros. “Não temos um acordo ainda, entre todas as aldeias, para decidir quem pode entrar e como fazer esse controle.” Ele conta que cada aldeia convida quem quiser. “Muitas vezes nem ficamos sabendo quem entrou.”
O principal projeto da Atix é vigiar o território do parque. Os indígenas formam grupos e de tempos em tempos fiscalizam todo o entorno para verificar se há presença de invasores. Em pontos estratégicos, há postos habitados por pequenos grupos de indígenas, que se revezam nesses locais. “Sempre há madeireiros e pescadores que invadem nossas matas e rios”, conta Pikuruk.
O desafio das comunidades é tentar conciliar o antigo e o novo. “Há uma preocupação muito grande dos caciques em atrair os jovens para conhecer sua cultura. Eles saem para estudar e não voltam mais, ou, quando voltam, não querem participar das tradições”, conta Ianacula.
“No momento temos um trabalho inicial usando instrumentos não indígenas para fortalecer esse legado, como acontece no Ponto de Cultura no Alto Xingu”, explica o camaiurá, em referência ao programa federal que fornece equipamentos digitais e capacitação para implantação de projetos locais. “Os mais velhos contam as histórias, e os mais novos registram. Já tem tido algum resultado, é uma sinalização de que pode ser esse o caminho para reverter o desinteresse dos jovens pelas tradições.”
A saga da criação do Parque Indígena do Xingu, que já foi cantada em verso e prosa, chega às telas dos cinemas este ano, em filme dirigido por Cao Hamburger. Com tantos problemas a enfrentar, o que se espera é que o próprio parque não precise de um Quarup em sua homenagem nas próximas décadas.
Alta tensão na selva
O coração do Brasil também está, cada vez mais, com as artérias sendo entupidas, mas não por acidente, e sim pelo chamado “interesse nacional”. Em meio a uma onda de desenvolvimento que não era vista no país desde os anos 1970, o potencial hidrelétrico da bacia do Xingu, quase inexplorado hoje, é a bola da vez.
A ameaça é múltipla. Já faz vários anos que os índios lidam com a polêmica das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), em instalação nos afluentes da bacia do Xingu, ao sul do parque. Os indígenas suspeitam que essas obras possam afetar seriamente a fauna da região, sobretudo os peixes, em decorrência das mudanças nos regimes dos rios.
Em março deste ano, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os processos que envolvem PCHs. Há suspeita até mesmo de uso de “laranjas” por políticos e falsificação de estudos de impacto ambiental. A Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso tem um cadastro – também questionado pela CPI – em que constam 143 PCHs no estado, das quais 48 já estão em operação. Um estudo do Ministério de Minas e Energia vê potencial de instalação de até 12 PCHs nos afluentes do Xingu que correm para o parque e, segundo a ’Y Ikatu Xingu, cinco já funcionam na área.
É a jusante do parque, porém, que o barulho anda maior, por conta da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Baixo Xingu, em Altamira (PA). O projeto, atualmente orçado em R$ 19 bilhões, prevê a construção de uma unidade para geração de 11 mil MW. Seria a segunda maior hidrelétrica do país em capacidade instalada, mas as grandes variações do rio entre seca e cheia farão com que, na média, ela produza 4,5 mil MW – nos períodos de seca, seriam apenas 1,8 mil MW.
Belo Monte é a nova versão de um projeto lançado nos anos 1970, o Complexo de Kararaô, que previa a construção de até seis barragens no Xingu. Esse histórico – que faz os opositores suspeitarem de que mais obras possam vir por aí –, as dúvidas sobre a eficiência da hidrelétrica e as reclamações relacionadas à falta de clareza na apresentação do projeto às comunidades têm gerado um forte movimento de oposição entre os povos indígenas da bacia do Xingu. “O rio é vida para nós e, se a gente matar o rio, quem morre é a gente”, explica Pikuruk Kayabi.