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Festa sem restrição
Em sua quarta edição, Virada Inclusiva celebrou o pleno exercício da cidadania, com atividades que reuniram pessoas com e sem deficiência
Em comemoração ao Dia do Deficiente, celebrado em 3 de dezembro, ocorreu, em todas as unidades do Sesc, a Virada Inclusiva. A quarta edição do evento, realizada em parceria com a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, ocorreu entre os dias 30 de novembro e 6 de dezembro, com ações de lazer, esportivas e culturais. Tudo com o objetivo de estender o pleno exercício da cidadania e a inclusão social de todas as pessoas, com e sem deficiências. Conheça alguns destaques da programação:
Jantar às escuras
Sentidos e Sabores foi uma novidade desta Virada. A ideia surgiu com as psicólogas Elis Feldman e Maria Lyra, fundadoras do Ateliê No Escuro Gastronomia. Um jantar de olhos vendados, essa é a premissa do Sentidos e Sabores. A experiência, que ocorreu no Sesc Belenzinho, no dia 04/12, estimula os participantes a darem mais atenção aos outros sentidos para degustar a refeição, experimentar as texturas, sabores, cheiros e sons, tendo a visão completamente obturada. O propósito é fazer as pessoas experimentarem uma atividade cotidiana de uma nova forma, estimulando a sensorialidade e também ajudar a compreender as limitações que uma pessoa com deficiência visual tem.
Jogos guiados pelo som
Outro destaque foram as oficinas de Audiogames, ministradas no Sesc Belenzinho no dia 01/12. Desenvolvidos pela Blind Games Brazil, carregam a ideia da inclusão social para deficientes visuais. Todos os jogos guiam os jogadores pelo som. “Conforme você vai teclando, você vai descobrindo o que cada tecla faz, onde atira, onde pula, onde corre, sempre guiado pelo som”, explica a técnica do Sesc Belenzinho Cristine Villa Santos. Cada botão do teclado emite um som característico, assim é possível saber o que o jogador está fazendo no jogo. O interessante da atividade foi a participação de pessoas sem deficiência. “Tivemos um público maior de pessoas que não são deficientes visuais. Houve muita curiosidade em torno dos jogos”, conta. Todos os jogos que foram ministrados nas oficinas da Virada Inclusiva podem ser encontrados no site da Blind Games Brazil.
Boa música
Victor Rolfsen, 21 anos, começou a tocar teclado desde cedo vendo seu pai. Aos 3 anos já praticava no instrumento que ganhara de presente. Aos nove começou explorar a guitarra, sempre por conta própria e sempre de ouvido. “Nunca li uma partitura em braile. Leio braile, mas nunca peguei uma partitura em braile para ler”, conta. “Acho que o fato de não estar enxergando contribui para que o ouvido funcione melhor.” Quando descobriu a guitarra, deitou-a no colo e começou manuseá-la como canhoto, “mas não sou canhoto, foi assim que aprendi a tocar. Quando comecei a fazer aulas de guitarra o professor falou para eu continuar tocando assim”. Victor foi convidado pelo Sesc Campinas a se apresentar na Virada Inclusiva deste ano, no dia 1º de dezembro. “Teve um público legal, pessoas que nunca ouviram falar do meu trabalho e estavam lá”, diz. “Tocar no Sesc é sempre muito bom. Frequento o Sesc há muito tempo e sempre tive vontade de um dia tocar lá.”
Teatro escuro
O Grande Viúvo, de Nelson Rodrigues, foi adaptado para o teatro escuro. “As pessoas têm a sensação do que se passa na peça, como se estivessem ouvindo uma rádio novela”, conta o técnico do Sesc Belenzinho Mauro Lucas. O diferencial está em não apenas usar a audição, mas todos os outros sentidos. “As pessoas ouvem os passos no palco, ouvem a preparação de um jantar, e vão sentir também os cheiros desse jantar, elas sentem a chuva caindo sobre elas, a única coisa é que elas não verão os personagens, a peça se passa totalmente no escuro”. O detalhe da peça, encenada no Sesc Belenzinho nos dias 6, 7 e 8 de dezembro, está no elenco. “Parte dele é cego. Então há atores cegos interpretando a peça para pessoas com visão, mas totalmente no escuro. Estão em pé de igualdade tanto os atores quanto os espectadores”, explica.
Sem limites para dançar
Marcos Abranches levou ao palco do Sesc Santo Amaro, no dia 01/12 , seu espetáculo Formas de Ver. Marcos é portador de paralisia cerebral, o que acarreta dificuldades de locomoção, mas isso não o impediu de tornar-se dançarino e coreógrafo. Junto com a bailarina Ale Bono Vox, cadeirante, apresentou uma obra que questiona a deficiência como antítese cultural do corpo saudável apto para a dança, mostrando o que acontece quando duas pessoas deficientes realizam o espetáculo. “É um trabalho que expõe as diversas maneiras de ver o mundo e de se ver”, conta a técnica do Sesc Santo Amaro Jacy Has. “Todos os movimentos são mais complicados para eles, a Ale Bono Vox consegue mexer apenas o pescoço, a cabeça e as mãos, então essa performance é um jeito de dançar e um jeito de ser dentro do mundo, diferente, mas que tem uma beleza sutil, é muito bonito”, explica. A obra nos mostra que, mesmo com limitações impostas por deficiências, ninguém ali no palco se sente prisioneiro de seu corpo. “No final do espetáculo, Marcos prende Ale Bono Vox com bambolês em sua cadeira e, com o pouco movimento que tem, ela se liberta e vemos a alegria dela de estar livre, então Marcos e Ale se juntam ao público e, de mãos dadas, fazem uma grande corrente”, relata Jacy Helena.
Estela Lapponi é uma artista. Dançarina, coreógrafa, intérprete e diretora artística. Em 1997, sofreu um AVC que a deixou com uma hemiparesia esquerda (pouco controle motor do lado esquerdo do corpo). Para a Virada Inclusiva ela trouxe Cadeira – Falando sem Tabu, espetáculo que misturou uma projeção de vídeo e performance no palco do Sesc Santo André, no dia 05/12. “O vídeo mostra a artista circulando por cidades trazendo à tona não só a questão da pessoa em uma cadeira de rodas, mas a da acessibilidade urbana”, conta a técnica Ligia Helena Ferreira Zamaro, do Sesc Santo André. “É um trabalho que leva essa reflexão para as pessoas com ou sem deficiência.”