Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

O que você faz no tempo livre?





por Rosana Elisa Catelli


As respostas para essa questão são muitas e diversas. Assistir televisão, ir à exposição, ler um livro, cozinhar para a família, ouvir rádio, ver uma peça teatral, ir ao shopping, visitar amigos e familiares, passear no parque, jogar bola, participar de saraus, jogar vídeo game, ir ao cinema, navegar na Internet, fazer esporte, ler jornal, jogar baralho, tocar numa banda, grafitar, fotografar, dançar, pescar, pintar, tocar, correr, bordar, viajar...


As atividades citadas são apenas algumas das possibilidades de respostas para a pergunta a respeito da fruição do tempo livre. Imaginem essa pergunta sendo feita para milhares de pessoas? É como abrir uma caixa-preta de informações a respeito dos lazeres e das práticas culturais dos brasileiros.


Entrar em contato com esses temas relacionados aos hábitos culturais é uma das oportunidades que tenho tido ao participar como pesquisadora do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc de São Paulo. Essa unidade realiza cursos livres relacionados à área da cultura e um curso de qualificação em gestão cultural. O convívio com os gestores, alunos do curso Sesc de Gestão Cultural, tem ampliado nosso do campo de visão a respeito das práticas de lazer e cultura.


A partir dos relatos desses profissionais na produção das artes, na gestão de instituições e na participação em movimentos culturais, percebemos a multiplicidade de experiências que ocorrem em diversas regiões, das mais centrais às mais periféricas. Temos ainda a contribuição dos nossos colaboradores - professores, gestores e profissionais do campo da cultura -, que subsidiam a reflexão teórica a respeito dos temas relacionados à gestão desse campo. Visitas e vivências em espaços culturais, do próprio Sesc ou não, nos aproximam das dimensões desse fazer que envolve cotidianamente milhares de pessoas, sejam artistas ou públicos.


Essas experiências têm permitido descobrir a heterogeneidade dos grupos socais que compõem São Paulo, assim como reconhecer os repertórios culturais que se multiplicam pela cidade. Essa riqueza de experiências no campo da cultura aparece quando desviamos nosso olhar da referência exclusiva à frequência em equipamentos culturais tradicionais, e observamos as atividades realizadas em diferentes espaços e lugares da cidade. Quando olhamos desse ponto de vista concluímos que cidade, arte e cultura possuem múltiplas formas e articulações, que geram uma variedade de modos do fazer cultural, que constantemente se altera no tempo e no espaço.


A velocidade de transformação do mundo contemporâneo nos surpreende com o surgimento incessante de novas práticas culturais. Há alguns anos estamos nos deparando com o rompimento de determinadas fronteiras do mundo da cultura. Cada vez mais somos ao mesmo tempo espectador e artista, leitor e escritor, cinéfilo e cineasta. Da minha casa assisto a um filme em dvd, faço um filme com o celular, visito um museu, assisto a um show de música no youtube, leio jornal, escrevo em um blog e disponibilizo meu texto para milhões de pessoas. Os espaços estão interligados pelos artefatos tecnológicos, que se constituem como novos locais de práticas culturais ou, ainda mais, formulam uma nova cultura, novas formas de cultura.


A partir da aproximação com estudos e pesquisas desse universo cultural, observamos a complexidade desse setor na sociedade contemporânea. As tarefas que temos no Centro de Pesquisa e Formação não são fáceis, entender as práticas culturais, o uso do tempo livre e proporcionar formação para aqueles que atuam nesse campo é uma missão de muita responsabilidade. Mas pela vivacidade desse cenário, pela criatividade dos atores e empenho dos que estão envolvidos com as artes, com o lazer e a cultura, os estímulos são imensos.



Rosana Elisa Catelli, doutora em Multimeios (Unicamp), é pesquisadora do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo