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Dossiê
Eduardo Coutinho é homenageado em filme de Carlos Nader
O cinema de Eduardo Coutinho costuma provocar polêmica. Seus admiradores divergem sobre qual de seus filmes deve ser considerado sua maior obra-prima: seria Cabra marcado para morrer (1984) ou Edifício Master (2002)? Ou ainda Jogo de cena (2007)? Não há conclusão sobre a divergência. O que todos concordam é que o diretor, falecido mês passado, aos 80 anos, construiu uma das filmografias mais inquietas e inovadoras do cinema contemporâneo. Apresentado sempre como documentarista, seus derradeiros trabalhos, como Moscou (2009) ou Canções (2011), lançavam diversas dúvidas ao público, a começar pelo questionamento de onde terminava a realidade e se iniciava a arte.
Nascido em São Paulo, Eduardo Coutinho percorreu o jornalismo (foi revisor de textos), o teatro (encenou peças infantis), a televisão (fez parte da equipe do programa Globo Repórter, ao lado dos diretores João Batista de Andrade e Paulo Gil Soares) e esteve próximo ao Centro Popular de Cultura, CPC, entidade ligada à União Nacional dos Estudantes, UNE, de quem recebeu a incumbência de fazer um filme. Decidiu que seria uma ficção baseada em fatos reais. No caso, a reconstituição do assassinato de um líder camponês no nordeste brasileiro. Cabra marcado para morrer começou a ser filmado poucos dias antes do Golpe de 1964. Resultado: parte da equipe foi presa, sob a alegação de serem comunistas, e a outra metade fugiu pelo sertão. Ao reencontrar os negativos, vinte anos depois, Coutinho retoma o trabalho; agora não é mais uma ficção e sim espécie de documentário sobre o filme interrompido. Uma obra dentro de uma obra inacabada. O jornal americano New York Times, em 1985, registrou que Cabra marcado para morrer não era um filme como outro qualquer. Muitos especialistas o colocam entre os cinco mais importantes de toda a filmografia brasileira.
Coutinho depois aperfeiçoou sua capacidade de apreender as histórias a partir de entrevistas com diferentes pessoas, em geral gente simples diante de seus sonhos e frustrações. Sua habilidade em desnudar personagens de carne e osso trouxe ao cinema momentos de pura poesia – um impacto poético vindo diretamente de experiências vividas, de casos reais narrados por seus próprios autores.
Em Jogo de cena - segundo alguns especialistas um trabalho para ombrear com Cabra marcado para morrer -, o diretor colhe diferentes depoimentos de pessoas anônimas cujo texto em alguns momentos é interpretado por atores, como Marília Pêra, Andrea Beltrão e Fernanda Torres. A vida imita a arte, parecia brincar Coutinho. Já em Edifício Master, os personagens são oriundos do famoso edifício carioca e surgem na tela ao expor suas vidas e segredos; de tão surpreendentes, muitas das histórias soam como inventadas, obras de ficção.
Mas era como Coutinho enxergava o cinema e a realidade: de tudo era possível se extrair momentos com diferentes graus de emoção. Sempre com requinte e exuberância.
No final de fevereiro, no CineSesc, foi exibido o documentário Eduardo Coutinho, 7 de outubro, de Carlos Nader. O filme nasceu para marcar os 50 anos do trabalho do Sesc com a terceira idade. Já a mostra Diretores em Retrato – Registros de Ludovic Carème, também no CineSesc, que ficará em cartaz até o próximo dia 9 de março, teve Coutinho (foto) como personagem, ao lado de outros grandes diretores, como Costa Gavras e Woody Allen.
O jornal New York Times ¿registrou que Cabra ¿marcado para morrer ¿não era um filme ¿como outro qualquer
Cidades em tiras
Está no Sesc Santo André, até o dia 9 de março, a exposição Cidade em Tiras – A Metrópole Brasileira através das Histórias em Quadrinhos. A mostra apresenta olhares sobre as grandes cidades brasileiras nas décadas de 1980 e 1990 por meio das histórias em quadrinhos criadas por Angeli, Glauco, Laerte, Adão Iturrusgarai, Fernando Gonsales, Luis Gê e Spacca, publicadas nas revistas Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Geraldão, Circo e Níquel Náusea. A curadoria ficou a cargo de André Luiz Sanchez Cezaretto, historiador e especialista em histórias em quadrinhos.
“Quando você tem 16 anos não viveu nada, agora sinto que posso fazer melhor”
Sérgio Dias em entrevista para o site Oba Oba, ¿líder d’Os Mutantes, que fez show ¿no Sesc Belenzinho nos dias 31/01 e 01/02
“Eu não me considero um artista, nem um antropólogo, nem um militante. O que fiz foi o que minha vida me levou a fazer”
Sebastião Salgado em entrevista à revista Época,
fotógrafo que esteve com a exposição Gênesis, ¿no Sesc Santo André, até o dia 04/03
Cinema alemão
A mostra Estética Expressionista foi destaque da programação do Sesc Ribeirão Preto entre os dias 4 e 21 de fevereiro. Mais conhecido como expressionismo alemão, esse movimento cultural esteve presente em diversas formas de arte, especialmente no cinema. A unidade apresentou cinco filmes, todos comentados pelo pesquisador André Castro: As Mãos de Orlac (dir. Robert Wiene, 1924), Fausto (dir. F. W. Murnau, 1926), O Gabinete das Figuras de Cera (dir. Paul Leni, 1924), O Homem que Ri (dir. Paul Leni, 1927) e Metrópolis (dir. Fritz Lang, 1927).
Passeio pelo Oriente
Acontece no Sesc Carmo, entre 7 de fevereiro e 4 de abril, a mostra especial Índia, que reúne uma programação re cheada de artes visuais, oficinas, culinária, música, dança e literatura, apresentando um panorama da sociedade, da cultura e da arte indianas. As atividades preparadas tiveram como base o registro fotográfico realizado por Regina Moraes quando visitou o país em 2012. A exposição Retrato Social – Uma experiência fotográfica – Índia, que tem direção artística do ator Fábio Assunção, é composta de 26 fotografias que retratam a realidade e a população local.
Arte para mudança
Houve em fevereiro, no Sesc Pompeia, uma série de bate-papos, cursos e oficinas de Artivismo. Artivismo é o nome dado a ações sociais e políticas, produzidas por pessoas ou coletivos, que se valem de estratégias artísticas, estéticas ou simbólicas. Entre os convidados estavam Bruno Torturra (Mídia NINJA), o grafiteiro Mundano, o Coletivo Rádio Muda e outros. Os eventos percorreram vários temas do Artivismo, como Espionagem e Liberdade nos Meios Digitais, Fotografia em Zonas de Conflito (com o fotógrafo Joel Silva), entre tantos outros.
ZL é o centro
O Sesc Itaquera foi palco, em janeiro e fevereiro, do Zona Leste é o Centro, uma proposta, ligada ao Sesc Verão, de apresentar a região. Nesse período, a unidade apresentou peças de teatro, shows, exibições, oficinas e bate-papos com produções da Zona Leste. Entre os destaques da programação, no dia 26 de janeiro Rodrigo Campos subiu ao palco com Alice Caymmi, Metá Metá, Jards Macalé e Ná Ozzetti. No dia 23 de fevereiro foi a vez do Concerto Hip Hop, com Xis, Thaíde, Rashid e convidados