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Caminhos Cruzados
Ser pedestre em São Paulo não é fácil: apesar do enrijecimento da lei, a situação das calçadas ainda obriga a conviver com obstáculos, buracos e desníveis
Em um cenário ideal, os 30 mil quilômetros de calçadas existentes em São Paulo – o equivalente a três vezes a extensão do litoral brasileiro – teriam largura mínima de 1,20 metro e superfícies antiderrapantes, sem desníveis, inclinações ou buracos, conforme a lei que responsabiliza os donos dos imóveis pelos passeios públicos. A realidade, porém, é outra. Na opinião de especialistas, a situação está longe disso.
“A condição dos passeios públicos na cidade vai desde a total falta de calçadas até a excelência”, avalia o consultor em segurança viária, mobilidade urbana e acessibilidade Philip Gold. “Apesar de a lei ter se tornado mais rígida, a maior parte das calçadas ainda é ruim”, pondera.
Gold se refere à lei de 2011, que aumentou de 0,90 metro para 1,20 metro a largura obrigatória da pavimentação e instituiu especificações mais claras, com multa de 300 reais o metro para quem descumpri-las. Para as calçadas antigas, a lei orienta o morador a entrar em contato com um responsável na subprefeitura para verificar as mudanças possíveis. Na opinião do consultor, deixar a responsabilidade nas mãos dos proprietários agrava o problema. “Isso dificulta a padronização”, aponta ele. “Outra dificuldade é que as calçadas não são vistas com a mesma importância que o asfalto. Andando a pé, você não tem o mesmo nível de conforto e segurança que em qualquer sistema de transporte.”
Para o presidente da Associação Brasileira de Pedestres, Eduardo José Daros, uma possível solução seria a maior participação das associações de bairro na fiscalização. “As associações poderiam assumir o diálogo direto, pois ainda falta consciência dos moradores. Muita gente não percebe que, se cada um melhorar a calçada da frente de casa, melhora o todo”, argumenta Daros. “O que tem acontecido, porém, é que muitos moradores criam uma condição de quase interrupção do trânsito de pedestres. Você não anda uma quadra sem passar por inclinações, buracos e rampas.”
A pesquisa Qualidade de Calçadas no Município de São Paulo, feita em 2004 em 117 quarteirões paulistanos, mostrou que havia na época 13,8 obstáculos por quarteirão. Isso significa que, a cada dez passos, o pedestre encontrava uma limitação em sua caminhada. “Apesar da pesquisa ser anterior à mudança na lei, as condições continuam parecidas, exceto nas áreas onde o sistema de pedestres foi refeito, como nas Avenidas Paulista e Faria Lima”, estima Gold.
A situação não é exclusiva de São Paulo, repetindo-se Brasil e mundo afora. Como exemplo positivo, Gold cita a cidade de Joinville (SC) e, no exterior, Londres (Inglaterra). Em São Paulo, a Avenida Paulista é considerada o melhor exemplo positivo, repetido também na Avenida Faria Lima e, até o fim deste ano, na Rua Cardeal Arcoverde. Gold, porém, não é otimista quanto ao futuro: “Sem a conscientização dos moradores e nesta velocidade de melhora, ainda demorariam décadas para termos uma rede de calçadas decente”.
Os principais obstáculos
Segundo o especialista Philip Gold, entre os problemas mais comuns estão a falta de espaço e a pavimentação errada
Falta de espaço
A largura ideal depende principalmente do número de pedestres que utilizam a calçada. Segundo a lei, em São Paulo a calçada deve ter no mínimo 1,20 metro de largura, mas muitas vias acabam sendo tão estreitas que impossibilitam duas pessoas de caminharem lado a lado.
Inclinação
Os passeios devem ser os mais planos possíveis, já que os declives geram desconforto aos pedestres. Regiões de São Paulo com subidas e descidas, como o bairro da Vila Madalena, possuem degraus, rampas e outros problemas que aumentam os riscos de quedas e impossibilitam o acesso de cadeirantes.
Obstruções
Arbustos, árvores, mesas de bares e mobiliário urbano sem sinalização trazem riscos para pedestres, especialmente deficientes visuais.
Pavimentação errada
Considerando fluidez, conforto e segurança dos pedestres, concreto é a superfície mais indicada para os passeios, por ter maior vida útil e exigir menos manutenção. Há, porém, muitas calçadas com pedras e outros revestimentos que, dependendo da condição climática, podem causar acidentes.
Água acumulada
A microdrenagem evita que a água fique acumulada. O uso de revestimentos impermeáveis e a falta de declive para a água escoar provocam poças.
Semana de prevenção de quedas
Neste ano, evento voltado ao público idoso teve como tema “Olhe por onde anda”
Entre 24 e 29/6, o Sesc recebeu a sétima Semana de Prevenção de Quedas, que buscou conscientizar a terceira idade sobre os riscos de acidentes – no Brasil, cerca de 29% dos idosos caem ao menos uma vez e 13% de forma recorrente. Neste ano, o evento teve como tema “Olhe por onde anda”, com destaque para as calçadas das cidades.
O grande diferencial desta edição foi a programação integrada em todas as unidades do Sesc em São Paulo. Entre as atividades, houve palestras, workshops e intervenções artísticas, como o Projeto Curativos Urbanos, que aconteceu na unidade Presidente Prudente. “O foco é o público idoso, incentivando-o a ser mais prudente e responsável sobre sua saúde e cidadania, além de chamar a atenção para seus direitos”, explica a gerente da Gerência de Estudos e Projetos da Terceira Idade, Cristina Madi.