Postado em
Fernando Naporano
My Claire Bloom Don’t Look Back In Anger
Descabida a cálida esperança
em ter de volta
o mísero sentido de gesto
o martírio de Marte
em infantil lírio
jubilado em jade
melancolizado em vidro
ao seu lado partido
Desesperadora oração de lágrimas
exasperada no deserto alado
da Symphony No.4 de Brahms
soprando o ouro despedaçado
de nossas vidas
por mais que sua lua em touro
nutra o prazer
da escultura assassina
Navegação da Flauta De Fogo
A totalidade, a radiação, a harmonia
em seu rosto
do cristal dos incêndios
vento de fragmentos
de sal e São Tomás de Aquino
Na garoa dos suspiros encantados
nos dedos liláses de suas sutilezas
no absoluto suor das unhas
carpindo os segredos
de sangue e Hieronimous Bosch
Ah, era assim, o corte,
derme desenfreada do Sim,
iluminado êxtase
em ametista silenciosa
na claridade sem confins
Luz barulhenta da juventude
raio que me parte
em poderosa petrificação
Dignidade Em Latido De Sílex
Os poros das folhinhas pisoteadas
pareciam se igualar
ao desesperador inconformismo
em ter perdido
a terra dos sentidos
Naufrago em naufrágios
na água réptil
a assustar a fragilidade
do coração de vento
debochado fogo a fogo
pela resplandecente
matéria da cinza
Os muros do mar
antigos biombos de nossos labirintos
uivavam de silêncio
na seda do luto
que abordava a plena insensatez
da miséria
do dia vegetal
Ao Compasso Das Ruínas De Uma Peça Expressionista
Acordado, dilatado no sono
flutuava
na esteira do sonho
de cacos de vidro fumê
no corte
da corte
em que representavas
a eternidade do amor
(Plateia de insônia ria, latia
traduzia fantoches,
fantasmas,
fábulas de Schopenhauer
que traíram a si mesmas)
Regressava ao odor lilás
de nosso primeiro beijo
corda-de-cardos
onde
entre cravos
me segurava
sem mais conter
o sangue da loucura
O silêncio do ar
parece rachar
o abandono
dos meus sentimentos
A cabeça conclusivamente vazia
ilha de fel feliz
resignada
sem soluções
sem as cercas dos dias
O olhar ao nível da terra
plenitude roxa
a arder de esquecimento
Nada ao lado de nada
é a pedra
a rigidez da sua lava
que afasta
quem contempla o rosto
Luz eneblinada
quase faz com que o ar
se recolha dentro de si
Claridade insuspeita
egressa do cinza
rima hermética
inerte
num facho de sol
Minúsculo calor opaco
partículas de frágil resistência
onde a alma de pedra
boia
fita a neutralidade
de todas as coisas
e se apoia
Fernando Naporano, poeta, é autor de A Agonia dos Pássaros (Demônio Negro, 2014)