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Mesa farta
Programa funciona como elo entre empresas e instituições sociais para evitar desperdício de alimentos
Segundo a Organização das Nações Unidas, uma em cada oito pessoas no mundo passa fome. O principal problema não é a falta de comida, mas a má distribuição, já que parte da população não tem acesso suficiente a alimentos de qualidade. Foi pensando nisso que, há 20 anos, o Sesc iniciou o programa Mesa São Paulo, com uma ideia simples: recolher alimentos próprios para consumo que seriam descartados, triá-los e distribuí-los a instituições sociais.
Alimentos in natura ou industrializados, que perderam seu valor comercial mas encontram-se em condições próprias para consumo, são recolhidos em empresas, centrais de distribuição, supermercados, padarias, sacolões, indústrias e feiras. Depois, são encaminhados a instituições como creches, abrigos, albergues, asilos e casas de convivência. Normalmente, a distribuição dos alimentos é feita no mesmo dia – a não ser que haja doações em grande quantidade.
“Para o Sesc, comemorar os 20 anos do Mesa tem um significado muito especial. É uma experiência pioneira de combate à fome no Brasil, que une empresas que querem doar e instituições que precisam receber”, comenta a assistente técnica da Gerência de Saúde e Alimentação Luciana Gonçalves. “Desde o início, um dos objetivos era fazer com que o programa pudesse ser uma ação modelar, e isso aconteceu. O Mesa São Paulo foi o modelo adotado pelo Sesc em 2003 para implantar o programa em todos os estados do país, criando a rede de bancos de alimentos intitulada Mesa Brasil. Além disso, o Mesa São Paulo foi citado pelo governo federal no documento oficial do Projeto Fome Zero como exemplo a ser reproduzido.”
O programa cresceu e amadureceu. Em abril de 2013 o Mesa Brasil recebeu o reconhecimento da Global FoodBanking Network (GFN), organização sem fins lucrativos comprometida com a criação e o fortalecimento de bancos de alimentos, como ação eficiente no combate à fome e ao desperdício. A entidade atua em mais de 20 países, com abrangência de um terço do total de pessoas que sofrem com a falta de comida em todo o mundo.
Desde a criação do programa, mais de 47 milhões de toneladas de alimentos já foram arrecadadas e doadas no estado de São Paulo. No Sesc Interlagos, a horta agroecológica onde acontecem ações de formação na área ambiental contribui sistematicamente para o programa, doando hortaliças não convencionais.
“O mais importante do trabalho conjunto entre o Mesa e o viveiro de plantas é a possibilidade de unir o cultivo desses alimentos com a certeza de que aquilo que foi plantado vai chegar à mesa de quem precisa. As instituições sociais que recebem essa doação têm ainda a oportunidade de conhecer essas diferentes hortaliças e seu valor nutricional”, afirma Vanessa Zaidan dos Santos, coordenadora do programa Mesa Brasil do Sesc Interlagos.
Além das empresas que participam doando alimentos, há 11 anos o programa conta com a parceria da empresa DHL, que diariamente disponibiliza um veículo com motorista para realizar a coleta e entrega das doações. A empresa implantou também um trabalho de voluntariado corporativo. Mais de 400 funcionários participam da ação em uma escala de revezamento: todos os dias, uma dupla diferente de pessoas contribui para minimizar o desperdício de alimentos na cidade de São Paulo.
Além de coletar e entregar doações, o Mesa Brasil Sesc São Paulo desenvolve ações educativas com participação de nutricionistas, culinaristas e outros profissionais que orientam as instituições auxiliadas e seu público. Nessas palestras, cursos e oficinas são dadas orientações sobre como montar cardápios saudáveis, evitar o desperdício, manter a higiene no manuseio dos alimentos e armazená-los de maneira correta. Conhecimento que chega às cozinheiras, auxiliares de cozinha, educadores, coordenadores das instituições sociais e também ao público assistido pelo programa.
Mapa da boa alimentação
Como o Mesa Brasil Sesc São Paulo transforma as estatísticas do desperdício em solidariedade
• Tudo começa na captação de empresas que produzem ou comercializam alimentos. Hoje, são 540 empresas doadoras.
Podem ser doados alimentos que não são aproveitados integralmente em processos industriais ou por condições particulares de comercialização, como prazo de validade próximo.
• Cerca de 80% da quantidade arrecadada é composta por frutas, legumes e verduras. Os 20% restantes se dividem entre arroz, feijão, macarrão, óleo, farinhas, carnes, ovos, açúcar, sucos, leite, pães, bolos, biscoitos, geleias, cereais matinais e sorvetes.
Para que os alimentos cheguem às 730 instituições beneficiadas em 42 cidades paulistas, as equipes do Sesc recolhem os alimentos em 30 caminhões.
• A menos que sejam doados em quantidades muito grandes de uma só vez, os alimentos recolhidos de manhã são doados na tarde do mesmo dia.
• No caso de doações em grandes quantidades, os produtos são armazenados em depósitos para uma melhor distribuição.
Nesse meio tempo, nutricionistas definem o tipo e a quantidade dos produtos que cada instituição receberá, respeitando suas características e necessidades.
• Na entrega, o cuidado é redobrado: motoristas e ajudantes levam os alimentos até as cozinhas das instituições, pois assim podem observar como os alimentos estão sendo armazenados.
Como resultado, 13,3 toneladas de alimentos que seriam desperdiçados por dia em São Paulo ganham um novo destino. No ano passado, foram doadas 3,5 mil toneladas de alimentos, beneficiando 143 mil pessoas. Desde a criação do programa, em 1994, mais de 47 milhões de toneladas de alimentos já foram arrecadadas e doadas no estado de São Paulo.