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por Cristina Riscalla Madi

Ilustração: Marcos Garuti
Ilustração: Marcos Garuti


por Cristina Riscalla Madi

Se aposentou? Como assim? Tão linda, tão jovem! Não, pode ser. Será? Ela está ficando velha? Está com medo da barriguinha não ficar tão negativa assim, da pele engrossar? Sei lá. Só sei que quando escuto uma notícia dessa penso que ainda precisamos trabalhar muito para diminuir nosso estranhamento com a ideia de envelhecer, de “sair do jogo”, de lidar com os efeitos e as consequências que o envelhecimento traz. Gisele, tão perfeita para continuar nos encantando com sua imagem, parando? Indo para os aposentos?

Em 2050 a pirâmide demográfica se inverterá. Teremos mais pessoas com mais de 60 anos que qualquer outra faixa etária. Está longe? Nem tanto. Estamos vivendo num tempo em que a expectativa de vida está ampliada e as possibilidades de envelhecer melhor é um fato.

Quem é velho hoje participou de conquistas sociais importantíssimas. Apresentou novos estilos de vida, rompeu tabus e convenções relativas a profissões, família e sobretudo, disseminou fortemente a ideia de que todos devem ter o direito de fazer suas próprias escolhas. Esboçou um mundo conectado e fez a informação circular.  Viveu com intensidade a contracultura e a vida em comunidade.

Por que será então que ainda pensamos que quando se fica velho, se perde direitos de escolha, o desejo de fazer planos?  Fazemos de tudo para retardar essa fase de vida negando os ganhos que a maturidade pode trazer.  O velho é sempre o outro.

Ainda nos espantamos quando vemos um idoso fazendo algo espetacular como o surf. Por que o espanto? O mar está aí para todos e a prática de um esporte como esse, só requer orientação e treino. Assim como hidroginástica e danças circulares. Insistimos em colocar o velho num lugar mais acomodado como se isso desse ao “novo” a tranquilidade de não precisar se preocupar.

Pode chamar de velho? Pode! Não é estranho? Nem tanto. Talvez se encarássemos com mais naturalidade o passar do tempo e apropriação dele como direito de todos que estão vivos, não seria tão estranho. Criança, adolescente, jovem, adulto, velho...GENTE!

Assim começamos a revisão do TSI - Trabalho Social com Idosos do Sesc, um programa de promoção social dirigido à pessoa idosa, velha ou da terceira idade. Este programa, também caminhando para entrar na maturidade, já viu a faixa classificatória de idade mudar umas quatro vezes. Viu virar velho os de 45, 50, 55 e agora, 60 anos. 

Começamos com muitas perguntas e várias possibilidades se apresentando na amplitude que pode ser pensar em pessoas envelhecendo na atualidade. Fez-se necessário estabelecer que o propósito desse trabalho é fazer com que cada um de nós seja capaz de se identificar com a abordagem dirigida ao idoso, com a qualidade da programação e, sobretudo, não subestimar a capacidade desse adulto maior que se coloca à nossa frente. Tratar e propor ações para o velho pensando em como seria estar no seu lugar, sem privilégios nem desvantagens.  

No Sesc partimos do princípio que a pessoa com mais de 60 anos tem oportunidade de participar e usufruir de todas as atividades oferecidas pela instituição nas mais variadas frentes de ação, interagindo com outras pessoas tendo em vista seu interesse e não sua idade. Sendo a educação uma possibilidade permanente, todas as frentes de programação estão abertas para receber uma população multietária numa ação transversal e contemporânea. 

A outra provocação que fazemos através do TSI é um recorte especifico que coloca o idoso no centro da ação, promovendo reflexões sobre a longevidade e o envelhecimento, cujas diretrizes apontam para a diminuição do preconceito e à promoção da cultura do envelhecimento.

Temos mais tempo pela frente. Por que não fazer dele um tempo de novas construções, de relevância pessoal e social? É assim que uma instituição como o Sesc se renova, revendo o tempo todo as intenções de seus programas.

Desejamos então toda a sorte para que Gisele Bündchen faça dessa sua aposentadoria das passarelas um tempo bom e pleno para sua existência e das pessoas que terão a sorte de acompanhar seu novo caminhar.


Cristina Riscalla Madi, 52, formada em Educação Física e estudante do último ano de Psicologia,
é gerente de Estudos e Programas da Terceira Idade do Sesc