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Hepatite C: ajude a combater o vírus
Cerca de 3% da população mundial é portadora do vírus da hepatite C, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em São Paulo, desde 2000, foram notificados 68.297 casos, número que representa apenas 0,1% da população paulista segundo o IBGE. Muitas vezes silenciosa, a doença tem perfil assintomático, o que explica a subnotificação de casos. Para conhecer a real dimensão da presença da hepatite no estado, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo lançou um censo inédito, com o objetivo de mapeá-la e assim ampliar e fortalecer as políticas de prevenção e tratamento da doença. “É importante que a gente conheça a população portadora do vírus para planejar medicamentos, serviços de atendimento e de laboratório”, explica a médica Maria do Carmo, coordenadora do Programa de Hepatites Virais do Estado.
Assim, a Secretaria pede aos portadores de hepatite C de todo o Estado que preencham um cadastro online, disponível no site. As informações pessoais serão mantidas em sigilo e utilizadas especificamente para esse levantamento.
A hepatite C é uma inflamação do fígado causada pelo vírus C (HCV) e, assim como a hepatite B, está presente no sangue. Na maioria dos casos, a hepatite C é crônica e não apresenta sintomas. Porém, sem tratamento, ao longo dos anos ela pode evoluir para cirrose hepática ou até mesmo para um câncer de fígado.
A principal forma de contágio é pelo contato com o sangue contaminado ao compartilhar objetos como lâminas de barbear, agulhas, seringas, alicates. Até o início dos anos 90, não existiam exames para detectá-la em transfusões de sangue e as medidas de biossegurança em atendimentos médicos e odontológicos eram menos rigorosas do que as atuais. “Pessoas na faixa acima de 40 anos, que tenham realizado transfusões de sangue ou cirurgias antes de 1993, podem ter sido expostas e devem fazer o teste”, afirma a Dra. Maria do Carmo. O exame para detectar o vírus é oferecido gratuitamente na rede pública, em Unidades Básicas de Saúde ou em Centros de Testagem e Aconselhamento (na cidade de São Paulo, é possível buscar a unidade de saúde mais próxima aqui). “Muitas vezes o diagnóstico só é realizado em uma fase avançada da doença, em um processo de cirrose. Por isso o ideal é fazer o exame e descobrir o mais cedo possível”, afirma a médica. Existem centros de assistência do SUS em todos os estados do país que disponibilizam tratamento de forma gratuita. Novos medicamentos, mais eficazes e com efeitos colaterais mais suaves, estão em fase de implantação pelo SUS.
Conversamos com Humberto Silva, presidente da Associação Brasileira de Portadores de Hepatite (ABPH), que nos contou sobre sua experiência com o diagnóstico e o tratamento da doença. Confira:
EOnline: Quando você descobriu ser portador da hepatite C?
Humberto: Ia pra África ver a Copa e seguir em projetos sociais de câncer infantil no Kenya, Etiópia, Angola e resolvi tomar vacinas. Passei num médico infectologista e ele me pediu o exame, por eu estar com mais de 40 anos. Fiz o exame. Apareceu o vírus. Segundo passo, era ver como estava o fígado. Já estava com Cirrose. E nunca tinha sentido nada. Por dedução, acredito ter contraído o vírus em uma transfusão de sangue 38 anos atrás. Sem nunca sentir nada, hospedei o vírus durante todo esse tempo, comendo o meu fígado aos pouquinhos.
EOnline: Qual foi o impacto na sua vida?
Humberto: Pesquisei sobre tudo. Tornei-me um expert, graduado na "Universidade do Google" (risos), mas aprendi sobre todos os aspectos da doença, comecei a ir a todos os congressos internacionais, etc. Fundei uma associação.
EOnline: Como foi o processo de tratamento, do início até sua conclusão?
Humberto: Tratei-me com o remédio que até hoje é usado, mas está para ser substituído, o terrível Interferon, que causa efeitos colaterais pesados. Tomava uma injeção na barriga a cada semana e "entrava em transe" por 8 horas após a picada... e depois lidava com o acúmulo do remédio que causava tosse ininterrupta, calafrios (no começo é quase uma dengue), falta de ar, cansaço, anemia, aftas, vermelhidão quando exposto ao sol etc. O primeiro tratamento de 6 meses zerou o vírus, mas três meses após, o vírus voltou. Depois fiz outros 12 meses de tratamento e graças a Deus me curei.
EOnline: Teve apoio durante o processo?
Humberto: O apoio da família é fundamental. Especialmente para se lidar com o tratamento do Interferon. Agora, o tratamento será suave e a família nem precisa ficar sabendo. Com o Interferon, você precisa que as pessoas te aguentem, pois o emocional é muito alterado. A gente explode fácil, chora à toa etc.
EOnline: Como foi formada a ABPH?
Humberto: Descobri que as Hepatites (principalmente a C) são as doenças mais injustiçadas do mundo, como causa. Elas têm 4 milhões de portadores no Brasil (3 milhões só da hepatite C) e meio bilhão de portadores no mundo, mas ninguém sabe sobre elas. Nem os próprios doentes, que só sentirão algo em estágio já muito avançado, perto da necessidade do transplante de fígado. Tanto é que apenas 5% dos portadores estão diagnosticados.
Ação da ABPH na Arena Palmeiras, em São Paulo. (foto: divulgação)
EOnline: Que ações considera importantes para a prevenção e tratamento da doença?
Humberto: O grande problema é o saldo que ficou, do passado, que deixou 3 milhões de pessoas com o vírus. A grande maioria pegou de transfusões e cirurgias. E alguns pelo compartilhamento de seringas (por exemplo: atletas que tomavam energéticos na veia, antes das competições e dividiam as seringas etc). Até em dentistas ou em campanhas de vacinação, pode ter ocorrido o contágio.
O governo tem esse saldo, esse compromisso. O de diagnosticar, descobrir os 3 milhões de brasileiros portadores do vírus. E isso pode ser feito de maneira rápida, com testes de furinho no dedo.
A ABPH, durante a semana de combate às Hepatites, testou 50 mil pessoas - um recorde mundial. E descobriu mais de 600 pessoas infectadas. Gente cujas vidas começam a ser salvas, pois agora poderão se tratar (gratuitamente com o remédio distribuído pelo governo e com os médicos de nossa associação).
Quer saber mais sobre a hepatite C? Consulte:
- SP Saúde
- Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde
- Secretaria Municipal da Saúde