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O coração tranquilo de Walter Franco
Cantor e compositor da vanguarda paulistana faz apresentação única em 30 de novembro, no palco do Sesc Carmo.
Aos 70 anos, Walter Franco volta a lotar as casas de shows. O “ex-maldito”, ao lado de compositores como Itamar Assumpção, Jards Macalé, Torquato Neto, Tom Zé e alguns outros, é hoje aclamado por jovens que buscam algo genuíno na música brasileira. O rótulo de “Os malditos” se deu por serem artistas inquietos e antipopulares, considerados “difíceis” de ouvir pois não se encaixavam nos padrões dos festivais da época. Com Walter não foi diferente, seu trabalho anticomercial era polêmico, mas acabou chamando a atenção pela ousadia e qualidade. O cantor causou impacto nos palcos e, contrário às vaias, mostrou-se confiante em seu talento, lançando cinco discos muito elogiados entre 1973 e 1982: Ou Não, Revolver, Respire Fundo, Vela Aberta e Walter Franco, sendo que em 2001 voltou às gravadoras com Tutano.
Em depoimento para a revista Pop, em 1978, Walter fala com emoção sobre o disco Respire Fundo:
“Esse meu disco é resultado da alegria. Pintou uma coisa mediúnica com uns poemas de meu pai (o jornalista, escritor, poeta e político Cid Seixas 1904-1972), e mesmo com os outros músicos. E eu acho que essa ligação só acontece a partir do gostar. A gente tá aqui no planeta pra aprender a gostar, né? A gente tá sempre aprendendo, o tempo todo dando e recebendo. E tudo é mesmo só uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. A alegria é a base de tudo isso. Uma coisa de mais luz, mais brilho, mais leveza – que só é possível se a gente não tiver medo. A timidez é a forma mais sutil do medo, né? E a única forma de acabar com o medo é a alegria. Perder o medo é perder a ilusão. De repente uma montanha passa a ser só uma montanha. E não assusta. Então a dor se transforma em pontos de luz… Meu disco é isso. Meu momento é esse. É um trabalho de geração: abrir caminho, conquistar espaço, desde Abbey Road, dos Beatles. Aí pinta um choque e dizem que a minha música não é popular, não é brasileira, não tem raiz. Eu acho que quem tem raízes é vegetal… O disco traz a síntese desses ciclos todos que fizeram a minha cabeça, mas não é uma coisa só minha: é tribal. Você acaba descobrindo que não tá sozinho. Mesmo trancado dentro do teu quarto, as pessoas te descobrem, se você estiver em sintonia com a sua essência. Eu voltei todo o meu trabalho pra isto: aplicar a técnica do pensamento nessa coisa da voz. Sem medo nenhum. A alegria é uma obrigação. E, se a gente quer viver, tem certas obrigações com a vida”.
É com a mesma alegria que Walter Franco espera por seu público em uma noite de segunda-feira, findando novembro.
Para aquecer o coração, um vídeo da canção homônima ao álbum, Respire Fundo:
* Video com licença de atribuição Creative Commons de helenaaboim
o que: | Walter Franco |
quando: |
30 de novembro, às 19h |
onde: |
Sesc Carmo | Rua do Carmo, 147 | 11 3111-7000 |
ingressos: |
Bilheterias do Sesc ou pelo portal |