Um Ancoradouro de Cantoras: Guinga e seu Porto da Madama
Lançado em 10/10/2015, o disco de Guinga e suas madamas é uma ode ao violão e ao canto forte, doce e distinto dessas intérpretes. Na matéria tem making of, faixas e bastidores do disco Porto da Madama - desfrute! Para adquirir o seu álbum, clique aqui!
Quando encontramos Maria Pia de Vito, no Museu de Arte do Rio, para as gravações do making of do disco "Porto da Madama", fazia frio e uma garoa insistente pintava a cidade maravilhosa de cinza. Péssimo dia para se fazer as imagens que contariam a experiência deste álbum, um encontro de belas e pungentes vozes, com um violão que encanta o Brasil e o mundo, desde 1967 quando, aos 16 anos, Guinga classificou sua primeira composição no II Festival Internacional da Canção (FIC), em 1967.
A simpatia e o carinho com qual a cantora italiana falou do projeto e da música de Guinga, no entanto, acabou jogando um pouco de cor naquela tarde esquisita. De noite, ouvi-la interpretar "Boa Noite, Amor" acompanhada do violão do mestre, no estúdio, fez o tempo desacelerar num acalanto, pondo todas intempéries do clima carioca em último plano, pois "a minha dor esquecerei, se eu souber que o sonho teu, foi o mesmo sonho meu" como diz a canção - e, naquela noite, todos os sonhos foram embalados por aquele violão e aquela voz.
"Porto da Madama" é o 13° disco, enquanto compositor e intérprete, de Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar, o Guinga, um dos personagens mais fortes da música popular brasileira que, ao que consta, também trabalha como dentista. Ele conta que, na essência, não mudou muito daquele jovem que acompanhou Cartola na gravação de "As rosas não falam".
"Eu tinha 23 anos e sonhava em conquistar um lugar na música brasileira, mas esse sonho permanece até hoje. Tô com 65 e continuo lutando pra conquistar esse lugar: a gente nunca sabe se vai conseguir... E se consegue, por quanto tempo você permanece? [...] Os ideais são os mesmos, as ilusões são as mesmas: a idade não me tirou as ilusões e nem a crença na música ou numa carreira profissional também"
Se as intenções e ilusões não mudaram, a capacidade de reunir grandes intérpretes entorno do seu violão só se aprimorou. Neste projeto, o músico reuniu a norte-americana Esperanza Spalding, Mônica Salmaso, a portuguesa Maria João e a já citada Maria Pia de Vito para interpretar canções, a princípio escolhidas por ele e pelo diretor artístico do disco, Luis Carlos Pavan.
A princípio pois, seguindo a generosidade do violonista, todas as cantoras ficaram livres para escolher, ao final, quais músicas se sentiriam mais a vontade para interpretar. "Porque é impossível você fazer um trabalho desse sem que haja um consenso ou pelo menos a busca de um consenso", explica Guinga, dono de todos os arranjos do álbum.
Em qualquer carreira extensa, em dado momento, as coisas se tornam automáticas e fica difícil conseguir vislumbrar outro caminho que não aquele já estabelecido e pavimentado pela experiência. Quando nos encontramos com Guinga para fazer o final das entrevistas do making of, um depoimento do músico emocionou todo mundo que estava ali trabalhando debaixo de um sol escaldante no Jardim Botânico (finalmente o Rio de Janeiro sorria aos nossos esforços).
"Consegui fazer o melhor de mim, dar o melhor de mim também. Não consigo mais do que eu fiz, realmente não consigo. Queimei muito desses restos de neurônios que eu tenho... E pelo repertório: poder tocar Tom Jobim, José Maria de Abreu, Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga... É muito emocionante você pegar um gênio desse, trazer pra dentro de você e depois devolver esse cara já com um pedaço de você junto com ele. É uma honra, muita responsabilidade e espero que eu tenha me saído bem".
O resultado, enfim, é disco poderoso em certa melancolia, com 13 canções arranjadas num violão tão próximo daquilo tudo que você conhece da genialidade dos nossos instrumentistas, um violão brasileiro, intenso, com acordes complexos traduzindo simplicidade nas melodias, te colocando em contato com o cerne da canção sem fazer esforço.
Trata-se de um registro íntimo. Não há, em qualquer faixa, overdubs, rastros de outras presenças no espectro sonoro que não seja Guinga e sua madama. A escuta deste álbum revela a intensidade de uma gravação ao vivo, esculpida em timbres que ora remetem ao banzo indefinido, ora nos põem em contato com a possibilidade viva, humana. Impossível ouvir impassível.
Os arranjos de Guinga se estendem por um repertório primoroso com compositores do quilate de Tom Jobim, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Zé Miguel Wisnik, Dorival Caymmi, Luis Gonzaga e Vinícius de Moraes. As letras e o texto que Sérgio Mendes fez das suas impressões ao ter contato com todo esse repertório -"bravo, meu amigo Guinga!" - você confere no encarte abaixo.
Para adquirir o disco, é só aparecer em uma Loja Sesc presentes nas unidades do Sesc SP - você pode comprar o seu exemplar na Livraria Online do Sesc SP, clicando aqui. Enquanto isso, você pode confirar amostras do disco aqui embaixo - divirta-se!