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Dupla dinâmica
Sem disputa de ego, texto e ilustração
são parceiros na conexão com o leitor
Tempo. Memórias. Histórias. São potentes as conexões entre texto e imagem exploradas pela ilustração. Criada no papel ou na tela digital, toma forma garantindo lugar na memória individual e coletiva. A ilustração pode ser uma porta para o mundo, como indica a exposição em cartaz a partir de 26 de janeiro no Sesc Birigui (veja o boxe É tendência!). Síntese e adequação são recursos norteadores para o ilustrador e professor Daniel Bueno. Tendo como exemplo o livro infantil, Bueno explica que no objeto o encontro entre texto e imagem aparece “de modo complementar e integrado”, sem rivalidade ou sobreposição de importâncias. Com sutileza, o ilustrador busca trazer elementos que seduzam visualmente o leitor: “Potencializo aspectos do texto e acrescento algo a mais, seja pelo exagero, abstração, ambiguidade gráfica ou fantasia”, enumera.
ABC do olhar
Não é só a parceria entre texto e imagem que vemos em trânsito. Há também a dobradinha ilustrador/editor, formada pela troca de olhares sobre o original que se tornará livro. Para a ilustradora Mariana Zanetti, o editor é fundamental para conduzir a visão externa durante a etapa da criação, “porque, ao estar intensamente dentro do processo, é difícil eu ter essa distância necessária para analisar o resultado”. Além disso, a expertise do editor em literatura, na obra que será trabalhada e no público leitor orienta o trabalho: “É um olhar experiente que consegue pontualmente dar balizas para a criação. Vai saber ouvir e ver as especificidades do ilustrador que escolheu para um determinado texto, suas questões, interpretação, transformando a relação num diálogo, numa troca”.
A ilustração conduz o ABC do olhar. Alfabetizadas no universo das palavras, as pessoas têm nas imagens os recursos para ler os símbolos que as cercam. Editora e consultora na área editorial de literatura infanto--juvenil, Dolores Prades, curadora da exposição A Ilustração como Porta para o Mundo (veja boxe É tendência!), cita a ilustradora theca Kveta Pacovska em sua análise. Kveta já disse que a ilustração é como a primeira visita das crianças a um museu. “Isto significa que a ilustração é o início da educação visual. A riqueza dos livros ilustrados coloca os leitores em contato com uma diversidade de estilos e técnicas que contribuem na ampliação do olhar para outras manifestações artísticas”, completa Dolores.
É tendência!
Principais nomes e momentos
da ilustração são reunidos em mostra
Depois de temporada no Sesc Bom Retiro, A Ilustração como Porta para o Mundo – 50 Anos da Mostra de Ilustradores da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha segue itinerante para o Sesc em Birigui, a partir do dia 26 deste mês. A versão brasileira da mostra realizada em Bolonha em 2016 traz 50 artistas escolhidos pela curadoria de Paola Vassalli. A esse grupo, somam-se cinco artistas brasileiros (Daniel Bueno, Fernando Vilela, Mariana Zanetti, Marilda Castanha, Odilon Moraes) escolhidos sob a curadoria de Dolores Prades. “Possibilitar o contato com estas obras e seus criadores é da maior importância para a formação de leitores autônomos e críticos”, destaca a curadora. Afinal de contas, “dar acesso ao que há de mais significativo na história da ilustração internacional contemporânea é um grande desafio”, complementa.
A mostra internacional está dividida em cinco décadas: do final dos anos 60 até 2016. Cada uma delas é representada por dez ilustradores que marcaram sua época. A exposição é realizada em parceria com a Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha e com o Instituto Emília, e fica em cartaz até 21 de abril.