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Teatro para atravessar a cidade
Se a vida é travessia, como diria Guimarães Rosa, essa condição ganha contornos bem menos poéticos no cotidiano da cidade grande.
Em São Paulo, das já escassas 24 horas do dia, quase 3 são gastas em trânsito: indo, vindo ou tentando chegar a algum lugar. Os dados são de pesquisa da Rede Nossa São Paulo, que também aponta que quase metade dos paulistanos vive essas três horas dentro do ônibus.
E foi pensando na potência do ônibus como espaço cênico que surgiu a Zózima Trupe, buscando resgatar o lugar da poesia nas travessias urbanas. Nessa estrada desde 2007, eles acabam de desembarcar no Terminal Belém com o espetáculo “Os minutos que se vão com o tempo”, parte do projeto Teatro Fora da Caixa, do Sesc Belenzinho:
Lugar de passagem ou de encontro?
Ao levar o espetáculo a uma linha comum do transporte público, a trupe chega a públicos desavisados, desacostumados aos ritos do palco teatral. Melhor assim. Sem formalidades, nos bancos do ônibus são todos iguais: atores e espectadores sentam-se lado a lado, levantam para os preferenciais, trocam confidências.
“Para pedir a história de uma pessoa, você precisa contar a sua também”, diz Priscila Reis, uma das atrizes da Zózima Trupe.
A troca é uma constante e, para além do momento da apresentação, está presente desde a concepção da peça.
“Os temas do espetáculo são temas que a gente acredita serem universais. Fomos descobrindo as saudades, as notícias, as esperas, as dores e angústias que todos nós temos. Procuramos em cada artista o que lhe tocava profundamente e que pudesse criar vínculos com os passageiros”, conta o ator e diretor Anderson Maurício.
Teatro Fora da Caixa
A terceira edição do projeto Teatro Fora da Caixa acontece até 27 de fevereiro, no Sesc Belezinho, com apresentações criadas para espaços não convencionais, como praças, corredores, lugares de passagem e áreas de trânsito de pessoas.
Além do espetáculo “Os minutos que se vão com o tempo”, que acontece no percurso do ônibus Terminal São Mateus 407F/10, a programação inclui a oficina Carpintaria: A Imensidão do Lugar e o documentário “Se o Teu Coração Pudesse Viajar, Qual Seria o Seu Destino?”
Saiba mais sobre o projeto: