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Por trás da brincadeira
A indústria de videogames vem tomando cada vez mais espaço dentro do mundo do entretenimento. Há jogos para a web que podem ser executados tanto por uma pessoa sozinha, jogados em duplas ou trios ou por um grupo simultaneamente – caso do multiplayer, com jogadores conectados ao redor do mundo –, há também os que são voltados para plataformas como tablets e celulares, além dos tradicionais consoles (normalmente conectados à televisão ou a um monitor). Com tantas opções somadas à crescente pulverização do mercado, a penetração dessa modalidadede divertimentono dia a dia dos brasileiros é certeira
Apesar de o Brasil ainda estar engatinhando no que diz respeito à fabricação de games, o professor Delmar Galisi, coordenador do curso de Design de Games da Universidade Anhembi Morumbi, afirma que já se podem encontrar pequenos estúdios para desenvolvimento de jogos no país. “De 10 anos para cá, há uma indústria (pequena) produzindo games no Brasil e vivendo disso. É umaquestão sobre a qual o Brasil tem potencial para evoluir”, explica. “Ele ainda não consegue desenvolver para PC por conta do problema da pirataria nem para console porque quem os desenvolve são fundamentalmente os Estados Unidos e o Japão, que controlam esse mercado no mundo contando com as atuais empresas que trabalham para eles, estúdios que são chamados para esse fim".
O roteiro
O processo de criação de games envolve uma equipe multidisciplinar de programadores, artistas, game designers, profissionais de som, designers de interfaces, sem falar nos profissionais mais específicos como modeladores de 3D e até texturizadores (mais comuns nos Estados Unidos).
Dentro dessa gama de especialistas, há a figura do roteirista de games, que, no âmbito nacional, ainda é um profissional em fase experimental, de acordo com a orientadora da oficina Roteiro paraGames do Sesc, Renata Gomes (veja boxe Foco na escrita). “Nos Estados Unidos e na Europa, percebe-se cada vez mais espaço para roteiristas de games, mas ainda é um terreno, digamos, um tanto ‘movediço’”, afirma. “Aqui no Brasil, também se buscam pessoas capazes de criar esse tipo de conteúdo, mas um roteirista ainda é dublê de designer ou produtor, não pode entender só da narrativa propriamente, tem que participar um pouco de toda a concepção do game.”
Mesmo assim, o trabalho desenvolvido por esse especialista é de grande importância, principalmente para os jogos com muita densidade narrativa, dotada de maior apelo. Por conta dessa característica, é comum certa confusão em torno da definição de roteiro de games em comparação a outros tipos (cinema, televisão, teatro etc.). “Há algumas diferenças no roteiro de games. O jogo é interativo, então se o jogador provocar uma situação, o personagem controlado pelo computador – que eles chamam de NPC – vai falar algo. Se o jogador caminha para outra situação, ele se depara com outra fala”, ressalta o professor Galisi. “O roteirista vai ter que ver todas as situações possíveis para que se criem diferentes conjunturas para cada necessidade. Quase nunca os jogos são lineares: eles podem ter dois ou três caminhos alternativos diferentes. A história é conduzida pelo jogador enquanto ele joga. Em um filme é contínuo. Você faz um roteiro e vai seguindo.”
Segundo Renata Gomes, dois elementos são fundamentais para um roteiro de game: embasamento técnico e uma boa ideia. “É preciso entender qual é a história de fundo, como os elementos da história serão apresentados no meio do jogo, por quais ações e falas de quais personagens e, acima de tudo, como a jogabilidade e a mecânica do jogo (ou seja, a forma como colocamos o jogo em ação) dão vazão aos acontecimentos narrativos que são vividos em primeira pessoa pelo jogador”, esclarece.
A estrutura de trabalho necessária para um roteirista de games se resume em ter acesso a um computador, facilitando a sua atuação até em termos de mobilidade. Para os interessados em trabalhar nessa área, é fundamental uma formação dupla, entendendo de narrativa e roteiro de modo geral, porém agregando noções de design de games. Renata conta que tem observado muitos alunos deaudiovisual que descobrem games na faculdade e, posteriormente, procuram aprender um pouco mais de design, assim como é comum alunos de design que, posteriormente, buscam se aprofundar em roteiro. “Todos os caminhos são válidos e, certamente, é preciso muita força de vontade para abraçar esse ramo, mas é também um nicho em franco crescimento e que vai gerar muito retorno profissionalpara quem quiser seguir esse caminho”, acrescenta.
FOCO NA ESCRITA
Nova oficina do Sesc aplica literatura e Narrativa em criação de roteiro de games
A oficina roteiro para games, que teve início no dia 30/1 e se estende até dia 27/2 no sesc pompeia, é parte do projeto a palavra aplicada, que engloba uma série de cursos de escrita aplicada a outras áreas artísticas. em quatro encontros, renata gomes, coordenadora do curso de teoria narrativa audiovisual (da pós-graduação em roteiro audiovisual) do centro universitário senac, vai orientar um grupo interessado no tema a fim de apresentar alguns elementos conceituais sobre narrativa em videogames e trabalhar alguns princípios de roteirização.
segundo o coordenador das oficinas de criatividade do Sesc Pompeia, Guilherme Leite Cunha, a proposta é realmente apresentar as principais características desse tipo de roteiro. “para isso, serão analisados (e jogados) alguns jogos exemplares no que se refere às suas narrativas”, explica. “Junto a isso serão propostos alguns exercícios práticos de análise e criação de pequenos tipos dejogos. Com esse escopo pretende-se apresentar as possibilidades desse novo universo para a escrita.”
A oficina foi baseada na análise da atual cena cultural, em que se constata o avanço e uso da escrita nas mais variadas linguagens. guilherme deposita expectativas nas pessoas que fizerem parte da oficina. “É possível afirmar que elas saberão as principais características da área e estarão preparadas para se aprofundar no assunto, seja em cursos de longa duração disponíveis nos níveis de graduação e pós-graduação, seja em outros cursos livres”, completa.