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Sesc_Videobrasil celebra 30 anos de história exibindo obras de diversos países em vasta programação
O Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, realizado pelo Sesc e pela Associação Cultural Videobrasil, celebra três décadas como uma das principais plataformas de mapeamento, exibição e debate da arte contemporânea no país. A sua 18ª edição – que ocorrerá de 6 de novembro de 2013 a 2 de fevereiro de 2014 – trará programação especial, com exposições, atividades públicas e premiação, relembrando os momentos mais marcantes de sua longa trajetória.
Desde 1983, quando surgiu com o nome de Festival de Vídeo Brasil, a mostra vem se transformando para atuar de forma inovadora em torno da arte e da imagem em movimento. “Era um momento muito peculiar da história e da arte do Brasil: o país estava em plena saída do regime militar, que, embora caminhasse para seu fim, ainda impunha sua tutela. E lembremos que o Videobrasil, desde o início, lidava com a produção mais experimental e, portanto, de compreensão muito difícil por parte do olhar dos censores”, relembra a diretora e curadora geral do festival, Solange Farkas. “Além disso, não havia ainda uma inserção profunda do vídeo na cena artística brasileira, o que ao mesmo tempo oferecia uma instigante liberdade criativa e representava um entrave quanto à difusão do vídeo experimental.”
Solange conta que foi convidada pelo artista Thomaz Farkas (seu sogro) a organizar um festival de vídeo. Na época do surgimento do projeto, foi curioso o modo como se estabeleceu um diálogo imediato com a televisão. “Hoje em dia isso pode ter uma conotação negativa, mas é inegável que na época ajudou a forjar uma peculiaridade de estilo de grande parte da primeira geração de artistas do vídeo no Brasil”, explica. Além disso, o evento serviu de plataforma de contato com novas tecnologias de produção de imagens por parte de artistas. Segundo ela, o historiador e crítico de arte Walter Zanini, que teve importante papel na incorporação dessa linguagem, havia feito algo parecido quando propôs que artistas trabalhassem com filmadoras, mas o Videobrasil colocou também o grande público em contato com essa provocação.
Acompanhando as próprias transformações e desenvolvimento por que passaram o vídeo e a arte contemporânea no cenário nacional e internacional, o festival dá visibilidade a formas de pensamento e expressões multilinguísticas. Solange Farkas ressalta que o Videobrasil foi o primeiro festival voltado à modalidade, estimulando a produção e possibilitando a sua consolidação e o acesso do público. Mais tarde, abriu-se à arte eletrônica, à performance e às práticas híbridas. Desde 2011, passou a abranger todas as linguagens artísticas, acompanhando a relação do vídeo com as demais artes. “Em um cenário mais político, o Videobrasil se antecipou às discussões em torno de uma nova confluência de forças e organização geopolítica em torno dos países do hemisfério sul, tema que se tornou mundialmente debatido a partir de meados da primeira década do século 21”, completa.
Parceria de sucesso
Em 1992, o Sesc se tornou correalizador do evento. Essa parceria começou justamente no momento em que o festival ampliou o foco, que desde o início da década de 1990 passou a ter o sul geopolítico (América Latina, Caribe, África, sul e sudeste da Ásia, Oceania, Leste Europeu e Oriente Médio) como destaque. Desse modo, houve uma confluência de missões: assim como o Sesc, o Festival compreendeu que seu papel era o de ampliar o acesso à arte, privilegiando polos artísticos fora daqueles centros hegemônicos de produção cultural – Europa Ocidental e Estados Unidos. “A entrada do Sesc como correalizador a partir do 7º festival, que aconteceu na unidade Pompeia, contribuiu definitivamente para a sua internacionalização, ensaiada desde a 5ª edição”, explica a gerente adjunta de artes visuais e tecnologia do Sesc São Paulo, Nilva Luz. “Com a parceria, ampliou-se significativamente o número de artistas, que já no primeiro ano da iniciativa contou com quase 200 participantes.”
Desde então, as duas instituições têm-se empenhado para que o festival se configure a cada edição como um espaço de arejamento das ideias acerca da produção artística contemporânea. Nilva destaca ainda a importância dedicada a cada detalhe do evento. “Igual cuidado é agregado para que a apresentação dos espaços seja sempre a mais adequada possível para o recebimento das obras”, acrescenta. “Também há o empenho no desenvolvimento de programas públicos e educativos que contribuam para a discussão sobre o conteúdo apresentado a cada edição e para a formação de público.” Para ¿Solange Farkas, levar o Videobrasil para unidades do Sesc gerou naturalmente uma maior diversidade de perfis de público. “Aos poucos, isso contribuiu com a abertura do festival para outras linguagens, formatos e expressões, a exemplo da própria programação do Sesc”, diz.
BOXE - Vitrine da arte
Acompanhe a programação
do festival nas unidades do Sesc
De 6 de novembro de 2013 a 2 de fevereiro de 2014, diferentes unidades do Sesc comemoram os 30 anos do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil com programação composta por instalações, exposição, debates e lançamentos.
O Sesc Pompeia recebe a grande instalação 30 Anos, formada por mais de 200 monitores que exibirão 20 horas de vídeos. Nela, a polifonia de obras, depoimentos, registros e intervenções de artistas como Nam June Paik, Kenneth Anger, Walid Raad, Chelpa Ferro, Peter Greenaway (foto), Tunga, Waly Salomão, Rosangela Rennó, Cao Guimaraes, Fernando Meirelles, Rafael França, Tadeu Jungle, Marina Abramovic, entre outros, forma um grande ambiente, um painel das três décadas de história do festival. A instalação abriga ainda uma midiateca – aberta ao público –, abarcando quase todo o conteúdo apresentado nas 17 edições, desde 1983. Esse espaço também será palco de palestras, debates e atividades dos programas públicos.
Junto com o CineSesc, a unidade traz ainda a mostra competitiva Panoramas do Sul, na qual 94 artistas – selecionados entre mais de dois mil projetos inscritos – do sul geopolítico (América Latina, Caribe, África, Oriente Médio, Europa do leste, sul e sudeste Asiático e Oceania) apresentam suas obras.
O festival também volta a expandir a sua programação para o SescTV. A nova temporada do programa Videobrasil na TV vai ao ar a partir de 18 de novembro. “Este ano serão exibidos sete programas de 26 minutos, os quatro primeiros sobre o histórico do festival e a produção artística em vídeo no Brasil, e os outros três sobre temas da mostra Panoramas do Sul. Os documentários foram produzidos especialmente para o SescTV, com os temas pensados em parceria com a organização e curadoria do Videobrasil”, explica a técnica de programação do SescTV, Fernanda Fava.
Somado a isso, será lançado em abril de 2014 o livro 30 Anos no Sesc Pompeia. A curadora do festival, Solange Farkas, explica que a obra aborda a relação entre vídeo e televisão, a busca de visibilidade para a produção do eixo Sul e a trajetória de mudanças e abertura pelas quais passaram o festival. “Além disso, contém contribuições de teóricos e críticos que atualizam o legado do Videobrasil, como Eduardo de Jesus, Gabriel Priolli, Moacir dos Anjos e Arlindo Machado, e refletem sobre suas mudanças de foco e de escopo, além de entrevistas com artistas e uma linha do tempo, com fatos e imagens que marcaram as dezoito edições realizadas”, acrescenta.
Veja detalhes da programação no Em Cartaz desta edição.