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Inéditos

por Nicolas Behr


não tente gostar
de brasília
tão rápido assim

blocos de verdade
sobrevoam
superquadras imaginárias

superquadras
à procura
de uma cidade

••••••

subo na caixa d’água
de ceilândia
e lá de cima
eu vejo o sertão

do cariri ao carinhanha

euclides da cunha desafia
guimarães rosa a provar
que antonio conselheiro
conheceu lampião

padre cícero
entra na discussão

conheceu não
conheceu sim

conheceu adão
conheceu caim

••••••

antes de brasília
houve
infinitas outras

sagradas & malditas

soterradas, profanadas
e reconstruídas
sobre estas sete:

sodoma
gomorra
herculano
pompeia
hiroshima
nagasaki

canudos

••••••

ideias enfileiradas
se repetindo ao longo
de uma linha imaginária

mas o que vejo
são esqueletos
de superquadras desossadas
onde blocos fossilizados
esperam datação

cidade branca
mediterrânea lagoa
admiração solar

linhas cenozoicas
riscos paleozoicos

era dos burocrossauros

••••••

as superquadras
quando soterradas
respiram
pelos cobogós

narinas fragmentadas
pelo ar despedaçado
dos alvéolos
quadrangulares

esqueça o poema
e me dê um abraço

meus pulmões aos cacos
na cidade
que respiro pelos olhos

••••••

Nicolas Behr é poeta, autor, entre outros, de Poesília – Poesia Pau-brasília (LGE, 2002), Menino Diamantino (LGE, 2003) e Laranja Seleta (Língua Geral, 2007), finalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em 2008.