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Educação Para Comer em Pauta!

Sophie Deram durante sua exposição na última palestra do Seminário
Sophie Deram durante sua exposição na última palestra do Seminário

No último dia do Seminário Internacional Alimentação Hoje - Entre Carências e Excessos, no Sesc Belenzinho, Elisabetta Recine e Sophie Deram fizeram palestra sobre os desafios de educação para a segurança alimentar e nutricional

A palestra “Educação para Comer?” foi conduzida por Elisabetta Recine, coordenadora do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição, e por Sophie Deram, nutricionista no Ambulatório de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas e no Ambulatório de Transtornos Alimentares da Faculdade de Medicina - USP.

Elisabetta focou nos porquês de se desenvolver uma política em torno da Segurança Alimentar e Nutricional. Para ela, o grande objetivo de uma política deste quilate é se realizar, praticamente, na relação de um profissional com um sujeito. Comer, hoje, possui uma estrutura tão complexa, que nos afastou da alimentação – temos muito pouco ou quase nenhum controle sobre os processos que trazem o alimento à nossa mesa.

“O que é produzido? Como é produzido? Como chega à nossa mesa?”. Isso tudo se trata de questão importante para soberania alimentar. A autonomia de escolha deve ser reforçada através de um modelo de sistema alimentar circular e não linear, como acontece hoje na grande maioria das cidades.

Voltar a cozinhar é extremamente necessário para reestabelecer a proximidade do homem com o alimento, abrindo caminho para a educação alimentar e nutricional.

A fala de Elisabetta também apontou a importância de se redistribuir o trabalho doméstico. A partir do momento em que a mulher se insere de uma forma diferente no mercado de trabalho e não há uma redistribuição do trabalho doméstico, quem sofre é a ponta do processo de alimentação, ou seja, quem consome o alimento convenientemente processado para salvar tempo na rotina alucinante da casa.

É importante a mobilização das pessoas no sentido de pressionar o poder público para regular as dinâmicas da alimentação – algo um tanto próximo do trabalho do IDEC e do Instituto Alana no que diz respeito ao olhar para a rotulagem dos produtos e para a publicidade na alimentação, pontuadas no dia 29/10.

Para Elisabetta, uma política pública voltada para a segurança alimentar e nutricional deve atuar nos determinantes estruturais do sistema alimentar: o que está disponível (físico), custo (econômico), regras/regulação (político), valores e atitudes(sócio-culturais).

Olhar além das questões de consumo e escolha, mostrando o que está por trás do alimento. Isso propicia autonomia, gerando práticas críticas em relação à alimentação. As pessoas precisam ser curiosas sobre isso, precisam entender o que vem acoplado às conveniências da alimentação nestes dias.


Elisabetta Recine. Foto: Michele Mifano.

A consciência sobre alimentação permeou a fala de Sophie Deram, principalmente nos termos de se olhar criticamente para o sobrepeso e a obesidade.

Foi curioso olhar para a definição de saúde da OMS e constatar que não há menção ao peso - “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Para Sophie, estamos aterrorizando adultos e crianças com a balança e não se trata de combater o sobrepeso, uma vez que “combate” é uma palavra muito forte. Trata-se de equilibrar peso.

Para tanto, Sophie foi enfática “Diga não à dieta. Coma alimentos verdadeiros. Cozinhe!”. Fazer dieta desregula seu cérebro e omite outros fatores que têm a ver com o peso, uma vez que este não é só consequência do que você come, ou só da qualidade da comida que se come, mas sim de uma cadeia mais complexa que ingestão e gasto de energia. Tem a ver com seu estilo de vida, seu meio ambiente, seus humores, o estresse cotidiano – enfim, um balanço entre dieta e saciedade.

Oficina PANCS, Plantas alimentícias não convencionais encontradas no espaço urbano. Foto: Michele Mifano

Na parte da tarde, ainda houve oficinas e visita ao Mesa Brasil nas unidades de Itaquera e Carmo do Sesc em São Paulo. Ao final, a sensação de que a alimentação é, ao mesmo tempo, flagelo e recompensa, e que um entendimento maior sobre as escolhas políticas de toda a cadeia que existe entre você e o seu alimento implicam num dos dilemas mais instigantes e antigos da humanidade. Buscar informações sobre sua dieta e reconstruir uma relação de proximidade com o fazer do seu alimento é mais que necessário. É urgente.

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