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Arte de vanguarda
Ao mudar-se para São Paulo nos anos 1920, Lasar Segall trouxe o olhar do expressionismo alemão para dialogar com a cena modernista brasileira
De origem lituana, Lasar Segall muda-se para São Paulo na década de 1920, aos 33 anos de idade. A aproximação afetiva com o país se formaliza em 1925, por meio do casamento com a brasileira Jenny Klabin. Futuramente, a casa do artista na capital paulista seria transformada no Museu Lasar Segall, idealizado por sua esposa e inaugurado pelos filhos do casal, Oscar e Mauricio Segall, numa homenagem póstuma a um dos maiores representantes das artes visuais brasileiras do período modernista. A amizade com Mário de Andrade – um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922 – encurtou as distâncias entre Segall e a movimentação cultural e intelectual de São Paulo, marcada pelo modernismo e pelo circuito dos salões aristocráticos das artes.
PINTOR CONSAGRADO
Segundo Jorge Schwartz, diretor do Museu Lasar Segall, a mudança do artista para o Brasil não é reduzida em significado e trouxe com ela a aura do famoso pintor identificado pelo expressionismo alemão. Exemplo disso foi a compra de algumas de suas obras por museus alemães, como o Von der Heydt-Museum Wuppertal, juntamente com exposições em cartaz na época. “Tamanha a importância, que algumas obras foram confiscadas e expostas na histórica exposição nazista de ‘Arte Degenerada’ em Munique, junto com 750 outros artistas – o que havia de melhor na vanguarda alemã e austríaca”, explica Schwartz.
Daqui já se notava o interesse de Mário de Andrade pela obra do artista, que se naturaliza brasileiro em 1927. Mário era leitor de publicações alemãs, por meio das quais conheceu Segall. “Foi quem mais escreveu sobre ele, fazendo com que fosse reconhecido nos anos 1920 como o pintor mais importante do Brasil”, completa. Mário de Andrade manifestou seu contentamento de forma pública em artigo publicado em 1924, no periódico A Ideia. O crítico entendia o trabalho de Segall como um paradigma da vanguarda, uma espécie de vitrine do que melhor estava sendo feito na Europa. Em outros textos, chegou a apresentá-lo ao público leitor como exemplo da arte contemporânea. Em crítica no jornal Correio Paulistano, em 29 de março de 1924, a propósito de uma exposição individual do artista, afirmou que a mostra trazia uma inquietação, “que é talvez o aspecto mais significante do espírito contemporâneo”.
EM OUTRAS FRENTES
Com histórico nas vanguardas europeias e inserido na cena modernista paulistana, Segall também atuou como cenógrafo, muralista e decorador dos salões aristocráticos, onde aconteciam exposições de artes visuais. Essas atividades ocorreram, principalmente, nos anos 1930.
Essa fase não tão conhecida do artista foi objeto de estudo do professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Lasar Segall: Arte em Sociedade (2008, edição esgotada), Fernando Antonio Pinheiro Filho, que também cita a amizade entre Segall e Mário de Andrade como peça-chave na divulgação do expressionismo no Brasil. Segundo o professor, Mário vê em Segall “uma possibilidade de renovação para a predominância da cultura francesa no modernismo brasileiro, defende o expressionismo como a nova vanguarda e o apresenta à elite paulistana”. Como exemplo, Pinheiro Filho menciona a decoração do pavilhão modernista na casa de Olivia Guedes Penteado. “Pintado num abstracionismo geométrico inusual até na obra de Segall, por isso mesmo, logrou êxito como inovação a que só uma elite que se pretendia distinta por sua cultura poderia incorporar”, analisa.
As várias faces do criador
EXPOSIÇÃO REÚNE GRAVURAS E XILOGRAVURAS PRODUZIDAS POR LASAR SEGALL ENTRE 1913 E 1930
Uma seleção de gravuras e xilogravuras de Lasar Segall podem ser vistas no Sesc Santo André até 10 de junho, compondo a mostra A Gravura de Lasar Segall – Poesia da Linha e do Corte. As criações exibidas foram produzidas pelo artista entre 1913 e 1930, em recorte que evidencia 16 gravuras de metal e 19 xilogravuras.
Responsável pelo projeto expográfico da mostra, o arquiteto pós-graduado em design Ricardo Amado estudou a biografia de Segall buscando estabelecer correspondências entre suas diferentes fases durante o percurso da exposição: “Optei por não ser rigidamente linear e cronológico, mas sim misturar fases e técnicas. Até o momento da montagem, fui revendo essa sequência para que resultasse em algo mais dinâmico e interessante, às vezes guiado pelo visual das obras e outras por técnicas e datas”, conta.
A exposição é gratuita. Confira a programação.