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Para chegar ao picadeiro

Novas gerações de artistas circenses buscam cursos livres, técnicos e superiores para expandir a formação


Foto: Helena Valle's


Quando se fala em circo, costuma-se pensar em saberes e técnicas transmitidos de modo familiar, lado a lado com a vivência no picadeiro – diferentemente de outras linguagens artísticas, como a dança e o teatro, que têm mais espaço na pesquisa acadêmica e na formação profissional de nível superior. Recentemente, porém, com o aumento na busca por cursos técnicos ou formação universitária no exterior, a maneira como se formam os artistas circenses brasileiros vem mudando.

“Nas últimas quatro décadas, seja pelo surgimento de muitas escolas de circo no Brasil, seja pelo maior acesso à informação, ganham espaço novas gerações de artistas que não se relacionam apenas com a lógica do conhecimento passado no seio da família circense”, observa o produtor e artista circense Robson Mol, que faz parte da Conexão de Trupes de Circo do Nordeste e realizou pesquisas sobre o circo em suas correlações com a sociedade. “Além dos artistas que têm se formado em escolas de circo, no circo social e em outros projetos sociais que utilizam as disciplinas circenses, há os artistas independentes, autodidatas, que se formam por meio de trocas e vivências com outros grupos e artistas”, analisa. “Esses meios sempre existiram, mas a facilidade de compartilhar e acessar vídeos na internet fez explodir esse tipo de formação.”

O produtor argumenta que no Brasil ainda é preciso um amadurecimento das políticas públicas voltadas à formação artística em circo para dar conta dessa demanda: “O artista sai da escola de circo geralmente com uma formação básica e não tem para onde ir para se aperfeiçoar, pois falta um grau superior de formação, cursos profissionalizantes e universitários de circo”, avalia. Robson também lembra que países como França, Bélgica, Canadá, Rússia, Austrália, México e Argentina são reconhecidos há algumas décadas por seus programas e escolas de formação em nível superior.

Hoje, a única instituição federal de ensino de circo no Brasil é a Escola Nacional de Circo da Funarte, no Rio de Janeiro, que realiza cursos técnicos de formação de dois anos. Aberta em 1982, tem cerca de 200 alunos matriculados. “Como no Brasil não há ainda formação superior, a maioria de nossos artistas acabam buscando o conhecimento em outros países, principalmente na Europa, ou pela troca de conhecimentos com outros artistas em cursos, oficinas, vivências e residências”, explica Robson.

“Muitos artistas circenses brasileiros se formaram vindo do teatro, da ginástica olímpica, fazendo cursos preparatórios, se apaixonando pela arte do circo e levando a ferro e fogo. As novas gerações buscam, sempre que possível, uma formação no exterior”, observa a artista circense Maíra Campos, integrante do Circo Zanni e da Cia. Artnerant,s, que estreará o espetáculo Balbúrdia no CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo. Ela iniciou no circo aos 17 anos e, após quatro anos de cursos preparatórios em escolas de São Paulo, em 2007 ingressou na Escola Superior de Artes do Circo, na Bélgica. “O ambiente universitário é muito estimulante para a criação. Além disso, enquanto em um curso livre são quatro horas de aula semanais, em um curso superior são seis horas diárias, em média, durante três anos, com aula teórica, prática, de teatro, dança, ioga...”.

A artista afirma que um dos resultados dessa busca por formações em outros países é a troca de influências. “A gente se influencia e também exerce influência. Assim como fui influenciada pelo circo europeu, eu também influenciei meus colegas. É uma troca”, completa.

 

Respeitável público!

COM ESPETÁCULOS DE 11 PAÍSES, FESTIVAL REÚNE PANORAMA DO CIRCO MUNDIAL

De 9 a 18 de junho, a quarta edição do CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo ocupa 13 unidades do Sesc na Grande São Paulo (Belenzinho, Bom Retiro, Campo Limpo, Carmo, Centro de Pesquisa e Formação, CineSesc, Consolação, Ipiranga, Itaquera, Pinheiros, Pompeia, Santana e Vila Mariana). A programação reúne 27 espetáculos, além de intervenções artísticas, ciclo de documentários e atividades formativas, como mesas, laboratórios e workshops.

Realizado desde 2013, o festival se consolida como espaço de difusão da produção nacional e internacional. É, ainda, um encontro para reflexão e construção do pensamento em circo no país. Nesta edição, há 11 países participantes, entre eles quatro que integram o festival pela primeira vez: Alemanha, Costa Rica, Holanda e Vietnã.

Uma das estreias é Mito – Jogos de Recusa (Sesc Bom Retiro), com os artistas Marcos Nery e Ivanie Malo, ele brasileiro e ela canadense e ameríndia da aldeia Malecite de Viger. No espetáculo, os artistas atravessam nove quadros-jogos inspirados nas culturas dos povos ameríndios localizados no Brasil e no Canadá.

Entre as produções nacionais da programação está a estreia de Figuras Mágicas, no Sesc Pompeia. O espetáculo é a primeira criação da dupla Vik & Fabrini, após 25 anos se apresentando nos cassinos de Las Vegas. A dupla, que já recebeu prêmios como o Leão de Ouro (Estados Unidos), Mandrake de Ouro e Mandrake (França), nesta apresentação se une a Rapha Santacruz, ilusionista pernambucano com mais de 15 anos de carreira. Para o festival, eles recebem o número do peruano Bruno Tarnecci.
 

 

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