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Guia Para Se Perder em Bertioga

Cantão do Indaiá, nome de uma palmeira comum da região.
Cantão do Indaiá, nome de uma palmeira comum da região.

*Por Cadu de Castro

Há algum tempo fui consultado sobre a possibilidade de produzir três vídeos para o Sesc Bertioga. Em tempos de pandemia do COVID-19 e isolamento social, o desafio foi o de produzir os vídeos sozinho e com o equipamento que tivesse à mão, sem correr e nem colocar ninguém em risco. Desafio aceito!

Definidos os destinos, iniciei as pesquisas e a produção do roteiro, pensando nos princípios norteadores do Turismo Social do Sesc e da Semana Virtual Turismo para Todos, Solidário e Sustentável, ligada a ISTO (The International Organisation of Social Tourism).

Pesquisa realizada. Roteiro pronto. O próximo passo foi a captação das imagens. Os vídeos não foram produzidos na ordem que se apresentam. O primeiro lugar que gravei foi o Cantão do Indaiá. Localizado no extremo leste da Praia da Enseada, o Cantão guarda as memórias das famílias caiçaras que viviam – e algumas que ainda vivem – na região. Na primeira metade do século XX, personagens de destaque da literatura brasileira estiveram ou viveram no Indaiá.

Vicente de Carvalho, poeta e escritor santista, morou em um bangalô no canto da praia. Euclides da Cunha, jornalista, escritor e engenheiro, esteve na região em 1904, e escreveu cartas a amigos relatando esta sua passagem. Mário de Andrade hospedou-se no bangalô de Vicente de Carvalho na década de 30, e escreveu uma carta relatando suas desventuras por lá. Portanto, além das belas paisagens, do rico ecossistema do costão rochoso, o Indaiá convida a uma viagem pela literatura brasileira.

Dias de sol, com as luzes do outono, ajudaram demais na captação destas imagens. Acredito que o vídeo que produzimos capte a essência do lugar, além de convidar o turista-espectador a reflexões sobre as possibilidades de aprendizado (educação para e pelo turismo) que uma viagem ou um passeio podem proporcionar.

Seu Doca, caiçara que nasceu e viveu até os 96 anos em Itaguá.Seu Doca, caiçara que nasceu e viveu até os 96 anos em Itaguá. Fotos de Cadu de Castro.

Após finalizar a captação das imagens do Indaiá, o passo seguinte foi uma imersão no Itaguá, um canto de praia ao norte da cidade, próximo à divisa com São Sebastião. O Itaguá era uma comunidade caiçara, isto é, de pescadores e roceiros, que ainda preserva aspectos do patrimônio imaterial dos antigos moradores, como a festa e a procissão de Sant’ana. Há alguns anos desenvolvi um roteiro de Turismo de Base Comunitária com a comunidade, cujo protagonista era o Seu Doca, caiçara que nasceu naquela praia e viveu lá até os 96 anos. Lúcido e muito inteligente, ele era o guardião das memórias locais. 

No último ano de vida de Seu Doca, iniciamos a produção de um documentário sobre ele e a história do Itaguá, que não foi possível finalizar. No entanto, utilizamos uma fala sua, na qual se refere à casa em que nasceu, construída em taipa e coberta de sapê que, sujeita a um vento noturno, amanhecia sem telhado.

O Itaguá é um lugar único e o que o faz ser único são os seus moradores, suas histórias, seus saberes e fazeres. E esta é uma das mensagens que o episódio tenta passar: o respeito e a valorização da história e da cultura locais.

Forte de São João, primeira fortificação construída em alvenaria no Brasil. 

O último lugar que gravei será o primeiro episódio da série Guia para se perder em Bertioga: o Forte de São João. Patrimônio histórico de grande relevância nacional, foi a primeira fortificação construída no país em alvenaria e por decreto real, em meados do século XVI. A ideia central é mostrar que, partindo da história local de Bertioga, podemos entender muitos aspectos da história do país. O Forte de São João é o mais importante patrimônio histórico de Bertioga e um ícone para a cidade e a região.

O Guia para se perder em Bertioga é um convite para se “encontrar” em Bertioga. Se em seu primeiro episódio traz um lugar icônico, parte indefectível da identidade da cidade, nos posteriores apresenta lugares menos conhecidos, porém encantadores. Seguindo este guia, explore, conheça, perca-se em Bertioga pois é preciso se perder para se encontrar.

 

*Cadu de Castro é historiador e guia de turismo.