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Cinco livros para a quarentena, por Jé Oliveira

Poemas de Drumond, histórias de Machado, o feminismo e o racismo na América, uma reflexão sobre amor. O que você está lendo nesse período de quarentena?

Fundador do Coletivo Negro, o ator Jé Oliveira, que recentemente se apresentou no YouTube do Sesc São Paulo, na programação do #EmCasaComSesc, compartilhou com a gente cinco dicas de livros que o acompanha neste período de quarentena.

 


 

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (Machado de Assis)

Romance desenvolvido em princípio como folhetim, de março a dezembro de 1881, na Revista Brasileira. Foi publicado como livro em 1982 e retrata a escravidão, as classes sociais, o cientificismo e o positivismo da época, chegando a criar, inclusive, uma nova filosofia — mais bem desenvolvida posteriormente em Quincas Borba (1891) — o Humanitismo, sátira à lei do mais forte. Considerado a obra que iniciou o Realismo no Brasil, mesmo depois de mais de um século de sua publicação original, ainda recebe inúmeros estudos e interpretações, adaptações para diversas mídias e traduções para outras línguas. Em 2020, uma nova tradução para o inglês esgotou em um dia após seu lançamento nos EUA.


NOVA REUNIÃO: 23 LIVROS DE POESIA (Carlos Drummond de Andrade)

Num único volume, uma viagem panorâmica e instrutiva pela obra de um dos mais importantes poetas brasileiros. Em 1969, Drummond publicou sua Reunião em um único volume. Recolhia, ali, os dez livros que escrevera até então, incluindo Alguma poesia (1930), sua obra de estreia. Mais tarde foi acrescentando outros volumes, até 1983, quando trouxe a lume, já sob o nome Nova reunião, dezenove títulos de sua lírica. Depois da morte do poeta, os netos Luis Mauricio e Pedro Graña Drummond complementaram a obra com trechos de livros posteriores. O resultado, ideal para estudantes e amantes de poesia, é esta Nova reunião de 23 livros em um único volume. Um amplo painel da obra de Carlos Drummond de Andrade, que atravessou boa parte do século XX construindo um depoimento - lírico e político, metafísico e sensual - sobre o Brasil.

 

(Capas dos livros citadas por Jé Oliveira / Divulgação)

 

MULHERES, RAÇA E CLASSE (Angela Davis)

Mais importante obra da autora americana, o livro traça um poderoso panorama histórico e crítico das imbricações entre a luta anticapitalista, a luta feminista, a luta antirracista e a luta antiescravagista, passando pelos dilemas contemporâneos da mulher. O livro é considerado um clássico sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe. A perspectiva adotada por Davis realça o mérito do livro: desloca olhares viciados sobre o tema em tela e atribui centralidade ao papel das mulheres negras na luta contra as explorações que se perpetuam no presente, reelaborando-se. O reexame operado pela escrita dessa ativista mundialmente conhecida é indispensável para a compreensão da realidade do nosso país, pois reforça a práxis do feminismo negro brasileiro, segundo o qual a inobservância do lugar das mulheres negras nas ideias e projetos que pensaram e pensam o Brasil vem adiando diagnósticos mais precisos sobre desigualdade, discriminação, pobreza, entre outras variáveis.


OLHARES NEGROS. RAÇA E REPRESENTAÇÃO (Bell Hooks)

Na coletânea de ensaios críticos reunidos em Olhares Negros, Bell Hooks interroga narrativas e discute a respeito de formas alternativas de observar a negritude, a subjetividade das pessoas negras e a branquitude. Ela foca no espectador — em especial, no modo como a experiência da negritude e das pessoas negras surge na literatura, na música, na televisão e, sobretudo, no cinema —, e seu objetivo é criar uma intervenção radical na forma como nós falamos de raça e representação. Em suas palavras, “os ensaios de Olhares Negros se destinam a desafiar e inquietar, a subverter e serem disruptivos”. Como podem atestar os estudantes, pesquisadores, ativistas, intelectuais e todos os outros leitores que se relacionaram com o livro desde sua primeira publicação, em 1992, é exatamente isso o que estes textos conseguem.


ELOGIO AO AMOR (Alain Badiou e Nicolas Truong)

Neste livro, Badiou nos mostra uma visão autêntica e controversa sobre o amor, sua relação com a filosofia, a política, a arte e como se apresenta na modernidade. Seu interesse por um aspecto pouco explorado do amor, a sua duração, a chamada “Cena a Dois”, nos dão subsídios para também podermos discutir conceitos nas diversas áreas do conhecimento. No caso específico da psicanálise, podemos encontrar nessa discussão feita sobre o amor um convite para podermos arejar, como ele o fez na filosofia, conceitos já tão discutidos como narcisismo, pulsão de vida e de morte, sexualidade, complexo de Édipo, princípio do prazer e da realidade, entre tantos, nos quais o amor está sempre entrelaçado.

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Jé Oliveira é ator, diretor e dramaturgo, fundador do Coletivo Negro, formado pela Escola Livre de Teatro de Santo André, onde hoje faz parte do corpo de Mestres da instituição sendo responsável pelo ensino e confecção de dramaturgias. Também leciona dramaturgia no Sesi Curitiba e pelo país todo com o projeto Sesc Dramaturgia. Possui seis peças escritas e encenadas, com destaque para Farinha com Açúcar ou Sobre a Sustança de Meninos e Homens (clique para ver adaptação para o Youtube do Sesc São Paulo), premiada no 6º Prêmio Questão de Crítica. Contribuiu artisticamente com os grupos: Ponto de Fiandeiras, Cia dos Inventivos, Cia do Miolo, Rolezinho – BH-MG e foi por cinco anos (2005-2010), integrante do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, onde ganhou prêmios como o Shell, Coca-Cola e o Cooperativa Paulista de Teatro.