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Missão é colocar o Brasil em órbita
por Evanildo da Silveira
Depois de 32 anos de existência, o programa espacial brasileiro passa por reformulações. Maior integração entre órgãos e instituições, uma nova série de projetos, mais participação de indústrias e domínio de tecnologias críticas são as principais características e objetivos do novo Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), para 2011-2020, cujas diretrizes foram aprovadas recentemente pelo Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira (AEB). Uma das alterações mais importantes é o aumento da participação da iniciativa privada, tendo sido criada uma empresa industrial nacional, mista entre governo e setor privado, chamada Visiona Tecnologia Espacial. Ela será a encarregada de fabricar os satélites e equipamentos de solo e, para tanto, assinar contratos com outras indústrias, nacionais ou internacionais.
De acordo com o presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, no cargo desde maio, a criação da Visiona, fruto da associação da Embraer (51%) com a Telebras (49%), esta última ligada ao Ministério das Comunicações, representa um primeiro e importante passo para maior participação da indústria nacional nos projetos espaciais. “Com a chegada da Visiona abre-se a oportunidade para agregar esse novo conceito de empresa integradora ao Pnae”, diz. Além disso, ele esclarece, “a utilização de todo o potencial do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, por meio de foguetes desenvolvidos em programas conduzidos pelo governo e por iniciativas autônomas puramente comerciais é uma alternativa que se apresenta promissora”.
A Visiona vem juntar-se às empresas privadas brasileiras que já atuam no setor, fornecendo satélites pequenos e suas estruturas e equipamentos de bordo, incluindo cargas úteis, foguetes de sondagem e veículos lançadores. “Nossa indústria aeroespacial é, certamente, a maior do hemisfério sul”, assegura o engenheiro Walter Bartels, diretor presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (Aiab), que congrega cerca de 50 empresas dos segmentos aeronáutico, de defesa e espacial. “Temos colaborado, de forma significativa, para o desenvolvimento do país, seja diretamente, por meio da contribuição econômica, seja indiretamente, pela transferência de inovações e princípios de qualidade a outros setores.”
Na opinião de Bartels, o aumento da presença das companhias locais no Pnae vai intensificar essa situação. “A participação da indústria nacional na criação de tecnologias e sistemas espaciais é condição necessária para a efetiva absorção pelo setor produtivo das inovações e da capacitação promovidas por essas atividades”, diz. Ele explica que o processo de globalização, cada vez mais percebido em todo o mundo, demonstra que a agregação de valor aos produtos fabricados em um país “é fundamental para sua competitividade como nação”.
No plano institucional, a ideia é reorganizar o Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (Sindae), responsável pela definição das políticas para a área. A principal novidade seria a criação do Conselho Nacional de Política Espacial – integrado pelos ministérios da Defesa (MD) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), além dos demais com projetos na área –, ligado diretamente à Presidência da República. Hoje, cada pasta cuida de seus projetos e responde à presidente. Abaixo dos ministérios, a proposta é criar o Conselho Técnico Científico, em substituição ao Conselho Superior, que faria a ligação entre as empresas e as universidades e centros de pesquisa.
Pelo novo desenho do Sindae, haveria mudanças ainda em relação ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que deixaria de se reportar diretamente ao MCTI e passaria a se subordinar à AEB. Um novo organograma define também os órgãos encarregados da execução do Pnae, com a atribuição de tarefas como o gerenciamento de atividades, a aprovação de planos, cronogramas, custos e gastos, o repasse de recursos financeiros e o acompanhamento de projetos.
Segundo Coelho, o que se procura com essas mudanças é construir um sistema integrado de gestão, para tornar mais dinâmico o Pnae, dando a ele um novo ritmo e tornando-o mais eficiente. “Nenhum grande problema é resolvido setorialmente”, diz. “Todos os elementos de um sistema – instituições, pesquisadores, técnicos e administradores envolvidos numa tarefa comum – têm de trabalhar em conjunto, trocando informações e colaborando uns com os outros. É assim que se faz qualquer coisa, principalmente em áreas de grande complexidade científica e tecnológica, como satélites e foguetes. Essa é a melhor forma de superar os problemas Nacionais.”
História
Até chegar a essas mudanças, o Pnae percorreu um longo caminho. O Brasil começou a realizar pesquisas espaciais no início da década de 1960, mas só passou a ter um programa estruturado, com recursos próprios, em 1980, com a criação da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). O objetivo não era nada modesto: colocar em órbita satélites brasileiros, com foguetes de construção nacional, em uma base localizada no país. A meta até hoje não foi alcançada e só foi atingida, na verdade, por poucas nações. No caso do Brasil, o país já tem dois centros de lançamento, o CLA e o da Barreira do Inferno (CLBI), no Rio Grande do Norte, e também constrói satélites. O que falta é um foguete capaz de levá-los ao espaço.
Não foi por falta de esforço que deixamos de alcançar esse objetivo. Quando se criou a MECB, a intenção era testar o primeiro protótipo do Veículo Lançador de Satélite 1 (VLS-1) em 1987, o que acabou não ocorrendo. O cronograma atrasou dez anos e a primeira tentativa só foi realizada em 1997. Dois anos depois, em 1999, foi feita a segunda. Em ambas, o VLS explodiu logo após a subida aos céus. Em 2003, estava programada uma terceira. Entretanto, aconteceu então o maior acidente já registrado até hoje no Pnae. No dia 22 de agosto, enquanto era preparado para ser levado ao espaço, o VLS-1 explodiu, destruindo a torre de lançamento do CLA e matando 21 engenheiros e técnicos do então Centro Técnico Aeroespacial (CTA), hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), do Comando da Aeronáutica.
Na época, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que, até 2006, quando terminaria seu primeiro mandato, haveria um novo lançamento do VLS-1. A promessa não só não foi cumprida como sequer a torre, agora chamada de Torre Móvel de Integração (TMI), seria reerguida até aquela data. “Embora as ações para sua reconstrução tenham se iniciado um ano após o acidente, as obras de fato só começaram em 2009, devido a diversos problemas judiciais, que impediram seu início conforme planejado”, conta o brigadeiro engenheiro Carlos Antônio de Magalhães Kasemodel, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), do DCTA. “Ela só ficou pronta em julho de 2012, quando foi realizada a Operação Salina, que consistiu na integração de um mock-up do VLS-1, para verificação das interfaces mecânicas e testes de recebimento da nova TMI.”
Mock-up é uma maquete em tamanho natural. O da cabine de um avião, por exemplo, é construído para que os prováveis ocupantes possam experimentar suas condições de conforto e ergonomia. No caso do VLS-1, seu mock-up, totalmente inerte (sem combustível ou satélite a bordo) foi acoplado à TMI para testar principalmente os sistemas elétricos. A torre, agora completamente automatizada, é bem melhor que a anterior, destruída no acidente de 2003. “Hoje, a TMI é uma das plataformas de lançamento mais modernas do mundo para veículos espaciais do porte do VLS”, garante Coelho. “Grande parte das modificações em relação ao projeto anterior visou tornar a torre mais segura.”
Já o VLS-1 real está em fase final de desenvolvimento. Trata-se de um lançador de pequeno porte, composto por quatro estágios de propulsão, todos movidos a combustível sólido, com capacidade para transportar cargas de até 250 quilos para órbitas equatoriais de até 700 quilômetros de altitude. Seu próximo teste está previsto para 2013, em um voo somente com o primeiro e o segundo estágios ativos. Um outro voo de teste, com todos os estágios, está previsto para 2014 e, em 2015, ele deverá voar já com um satélite a bordo. A criação do VLS-1 visa consolidar a tecnologia indispensável para a colocação em órbita de artefatos importantes para o país.
Projetos
Os conhecimentos adquiridos também poderão ser usados no Programa de Veículos Lançadores de Satélites Cruzeiro do Sul, criado em 2005 com planos de construção de cinco novos foguetes até 2022. A princípio, eles seriam denominados Alfa, Beta, Gama, Delta e Épsilon – nomes das estrelas principais da constelação do Cruzeiro do Sul – e teriam capacidade de transportar desde artefatos pequenos até satélites de grande porte para as mais diversas órbitas terrestres. Por enquanto, porém, o projeto ainda não saiu do papel. Dentre os foguetes planejados, os únicos que deverão ser de fato construídos são os dois primeiros, VLS-Alfa e VLS-Beta, com capacidade de lançamento de 500 e 800 quilos a altitudes de 750 e 800 quilômetros, respectivamente.
Segundo o brigadeiro Kasemodel, os estudos preliminares para a construção do VLS-Alfa já foram realizados, mas até agora não foram disponibilizados recursos para levar o projeto adiante. “O desenvolvimento dos demais veículos da família Cruzeiro do Sul está sendo rediscutido, considerando que não teria sentido criar um veículo nacional para competir com o Cyclone-4, que seria o VLS-Delta”, diz. O militar diz que, “quanto ao VLS-Gama e ao VLS-Épsilon, o problema é a perspectiva de baixa demanda para esses lançadores no mercado”.
O Cyclone-4, mencionado por Kasemodel, é um foguete fabricado pela Ucrânia e que será comercializado com exclusividade pela Alcântara Cyclone Space (ACS). Trata-se de uma empresa pública binacional de capital brasileiro e ucraniano, criada em 31 de agosto de 2006 com o objetivo de fazer lançamentos comerciais de satélites para qualquer país interessado, a partir de Alcântara. Para isso, a companhia está construindo seu próprio sítio de lançamento no CLA. Quando a ACS foi fundada, a previsão era de que o voo inaugural fosse feito em 2010, o que não ocorreu. Agora, a perspectiva é que o primeiro voo de qualificação do Cyclone-4 seja realizado no final de 2013.
Com 40 metros de comprimento, esse foguete tem capacidade para colocar 5,3 mil quilos em órbita terrestre baixa (até 500 quilômetros) ou 1,6 mil quilos em uma órbita de transferência geoestacionária. Esta é elíptica, com seu perigeu (ponto mais próximo da Terra) a 170 quilômetros de altitude e o apogeu (ponto mais afastado da Terra) a 35,98 mil quilômetros de altitude. Ela é utilizada para transferir um satélite de uma órbita baixa terrestre para a geoestacionária – aquela em que o artefato espacial fica sempre sobre o mesmo ponto da superfície do planeta.
Em 2015, deverá ocorrer o primeiro voo do Veículo Lançador de Microssatélites 1 (VLM-1), que está sendo construído, em parceria, pelo IAE e pela Agência Espacial Alemã (DLR), com investimentos previstos de R$ 100 milhões. Esse novo foguete terá capacidade para levar pequenos artefatos, de até 200 quilos, a uma órbita equatorial de 300 quilômetros de altitude. Como seu custo de produção é relativamente pequeno, a expectativa é que se abra um mercado significativo para sua comercialização. Além disso, para atrair possíveis clientes e demandas diferentes, o VLM-1 será produzido em várias versões, com alterações apenas no terceiro estágio, mantendo-se inalterados o primeiro e o segundo.
Além dos foguetes, o Brasil também fabrica os motores que os levam com suas cargas até o espaço. São três os propulsores mais importantes em produção, todos movidos a combustível líquido: L5, L15 e L75. O domínio dessa tecnologia é mais difícil, mas os motores são mais eficientes do que os que usam propelentes sólidos, além de propiciar maior precisão na hora de colocar um satélite em sua órbita, uma vez que podem ser ligados ou desligados no espaço quando isso se fizer necessário. Todos os três estão sendo desenvolvidos pelo IAE, com grande participação de empresas privadas.
O L5, que funciona com etanol e oxigênio líquido, é capaz de movimentar até meia tonelada. Movido com os mesmos combustíveis, o L15 tem força três vezes maior, podendo carregar 1,5 toneladas. O mais potente, o L75, com capacidade para deslocar 7,5 toneladas, é alimentado com querosene e oxigênio líquido. O principal objetivo do desenvolvimento do L5 é capacitar os técnicos e engenheiros do IAE e as empresas envolvidas para projetar, fabricar e testar outros motores movidos a combustível líquido, como é o caso do L15 e do L75. Além disso, ele poderá ser usado para substituir o atual motor do quarto estágio do VLS-1, que hoje utiliza combustível sólido. As vantagens da troca são o aumento da capacidade de carga do foguete e a melhoria na precisão da entrada em órbita. O L75, por sua vez, deverá ser empregado como propulsor do VLS-Alfa e do VLS-Beta.
Em órbita
Na área de construção e operação de satélites, o Brasil está mais avançado. Já em 1993, o país havia construído sozinho o Satélite de Coleta de Dados 1 (SCD-1), colocado no espaço pelo foguete americano Pegasus, no dia 9 de fevereiro daquele ano. Ainda em operação, ele já deu mais de 100 mil voltas ao redor da Terra, percorrendo uma distância de cerca de 4,5 bilhões de quilômetros, o que corresponde a quase 6 mil viagens de ida e volta à Lua. Cinco anos mais tarde, foi lançado o SCD-2. Ambos continuam coletando dados ambientais, para a previsão do tempo e monitoramento das bacias hidrográficas, entre outras aplicações, repassados por 300 sensores instalados no solo.
Em parceria com a China, num trabalho conjunto iniciado em 1988, foram construídos três Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres (CBERS na sigla em inglês de China-Brazil Earth Resources Satellite), lançados pelo país asiático. Nenhum está mais funcionando; o CBERS-1 se manteve em operação de outubro de 1999 a agosto de 2003, o CBERS-2 de outubro de 2003 a janeiro de 2009, e o CBERS-2B de setembro de 2007 a maio de 2010. Agora, um quarto da série, o CBERS-3, está sendo preparado para voar, o que deve acontecer em dezembro deste ano ou início de 2013.
Além do CBERS-3, a nova carteira de projetos da AEB prevê o lançamento de novos artefatos até 2019. Em 2014, deverá ser colocado em órbita o CBERS-4 e, em 2015, o primeiro Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). “No período compreendido entre 2015 e 2020 – fase de expansão do Pnae –, investiremos no desenvolvimento de novos projetos de maior complexidade tecnológica”, revela Coelho. “Serão colocados no espaço três satélites de monitoramento ambiental do Programa Amazônia: o AMZ-1 e o AMZ-1B em 2015 e o AMZ-2, além de um meteorológico geoestacionário, em 2018. Em 2019 serão lançados ainda o segundo SGDC e um satélite radar.”
Desses todos, um dos mais importantes é o SGDC, cujo projeto será coordenado pelo Comitê Diretor de Projeto (CDP), do qual fazem parte representantes da Telebras e de três ministérios: da Defesa, das Comunicações e da Ciência, Tecnologia e Inovação. A construção dele ficará a cargo da Visiona, que poderá subcontratar fornecedores estrangeiros e empresas nacionais que atuam na área espacial. Quando estiver em operação, o SGDC servirá ao Programa Nacional de Banda Larga, levando a internet a cerca de 1,2 mil municípios brasileiros hoje sem acesso à rede mundial de computadores.
Ele também será usado pelo Sistema de Comunicações Militares por Satélite (Siscomis), que hoje utiliza dois satélites da empresa Star One, controlada por um grupo mexicano. Essa situação deixa o país sujeito à interrupção das comunicações militares por motivos comerciais ou geopolíticos, além de pôr em risco informações confidenciais estratégicas e de segurança. O novo satélite nacional vai eliminar essa vulnerabilidade, além de capacitar as empresas nacionais para a construção do segundo SGDC e de outros artefatos demandados pelo Pnae.
Soberania e desenvolvimento
Comparada às condições vivenciadas no passado – quando as atividades espaciais do país sofriam, na maior parte do tempo, com a falta de recursos –, a situação atual, no aspecto financeiro, é relativamente melhor. Segundo o presidente da AEB, o orçamento aprovado para o programa espacial em 2012 é da ordem de R$ 443 milhões, pouco mais de 7% de tudo o que foi destinado ao longo das três décadas do Pnae. “Nesse período, os investimentos governamentais atingiram o total de R$ 6,152 bilhões [já corrigidos para 2011]”, informa Coelho. “Desse valor, aproximadamente 40% foram aplicados no desenvolvimento de satélites, 28% em foguetes e suas respectivas infraestruturas associadas e 25% nos centros de lançamento”, ele conta.
Para muitas pessoas, esse dinheiro seria mais bem empregado se fosse usado para resolver problemas mais urgentes do país, como saúde e educação. Esse é um raciocínio simplista, que não leva em conta os benefícios imediatos e de longo prazo proporcionados pelas pesquisas espaciais. São muitos os motivos pelos quais é importante para um país com as dimensões do Brasil ter um programa na área: ele atende a demandas concretas da nação e da sociedade. “Podemos citar a prevenção e o alerta de desastres, a estratégia nacional de defesa, o monitoramento ambiental e a segurança alimentar e hídrica”, ressalta Coelho.
O brigadeiro Kasemodel, por sua vez, lembra que os investimentos em atividades espaciais são considerados estratégicos para o desenvolvimento soberano do país e fundamentais para incentivar o crescimento econômico e social da nação. “A extensão de nossas fronteiras terrestre e marítima e as riquezas minerais tornam inaceitável a dependência de satélites estrangeiros para os sistemas de comunicações e monitoramento do território nacional”, justifica o diretor do IAE. “O patrimônio da Amazônia seria, por si só, motivo relevante para justificar a necessidade de o país investir num programa espacial. No entanto, há outros fatores motivadores, como as reservas de petróleo na camada do pré-sal, por exemplo.”
É preciso levar em consideração, também, que com o tempo as pesquisas nessa área acabarão contribuindo para o desenvolvimento tecnológico do país. Por isso, segundo Coelho, criar tecnologia espacial significa avanços em todos os campos de atividade. “Ela é fundamental para o progresso da própria ciência e das outras tecnologias”, explica, afirmando que “a complexidade tecnológica da atividade aeroespacial é a segunda, no ranking da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), perdendo somente para a farmacêutica.” O resultado são itens de alto valor agregado. Enquanto os produtos agrícolas valem, em média, US$ 0,20 por quilo e os aeronáuticos US$ 10 mil, os espaciais chegam a US$ 50 mil.
Às vezes passa despercebido, mas muitas das tecnologias criadas para a área espacial nos países ricos geram subprodutos, que acabam sendo usados no dia a dia em todo o mundo. Entre os exemplos mais notórios estão os chips de circuitos integrados utilizados em larga escala pela eletrônica moderna, as baterias solares para relógios e calculadoras, o teflon, o forno de microondas e as soldas e brocas especiais de dentista. Kasemodel salienta que isso, em certa medida, também ocorre com o programa espacial brasileiro, que tornou possível o desenvolvimento de tecnologias estratégicas em diversos segmentos, como áreas de materiais, química, eletrônica, sistemas de navegação e controle e sensores.
O brigadeiro dá alguns exemplos concretos de subprodutos do Pnae, como a química de propelentes, materiais ablativos (que se queimam para proteger uma outra estrutura) e adesivos, compósitos e tecnologia de bobinagem de fios e fitas sintéticas, aços especiais de alta resistência, tubos de alumínio sem costura e processos e meios industriais de usinagem, soldagem, tratamento térmico e de conformação de chapas metálicas. “Além disso, há os benefícios indiretos, como o aumento da capacitação de recursos humanos e a geração de empregos de alta tecnologia”, destaca Kasemodel. “São avanços difíceis de quantificar, mas que representam a alavanca do setor intelectual e produtivo dos países que se dedicam a esse ramo do conhecimento.”