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Bicicleta: a mobilidade está no pedal
Utilização de meios de transporte sustentáveis e saudáveis propõe mudança de visão sobre o espaço público
A mobilidade urbana sempre esteve associada ao desenvolvimento econômico. Este é intrínseco ao tempo: quando mais rápidas as locomoções, mais possibilidade para trabalhar, produzir, negociar e lucrar. Com o aumento da frota de veículos motorizados individuais nas ruas, a agilidade na locomoção está ficando para trás, dando lugar para cenas de congestionamentos cada vez maiores. Este cenário afeta diretamente o bem-estar das pessoas e resultou na necessidade de se rever a utilização do espaço público nas grandes cidades e metrópoles.
O ciclismo oferece a mobilidade sustentável e uma possível alternativa para os problemas de congestionamentos. “Com o aumento de veículos, as metrópoles e os grandes centros estão parando. A bicicleta pode contribuir para essa questão”, acredita Carolina Seixas, assistente técnico da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo do Sesc. Para ela, as ciclovias começam a se destacar em grandes cidades, pois sua utilização tem aumentado. De acordo com a Pesquisa Mobilidade Urbana feita pelo Ibope na cidade de São Paulo, o número de paulistanos que usam a bicicleta todos os dias como meio de transporte cresceu 50% em 2014, em comparação ao ano passado. O levantamento de 2013 apontou que cerca de 174,1 mil moradores usavam a bicicleta diariamente. Neste ano são aproximadamente 261 mil.
Conscientização
Na Semana Move Brasil – uma ação com mais de 300 atividades físico-esportivas disponíveis ao público, seja nas unidades do Sesc ou em ações externas realizadas pela instituição e demais movedores, buscando a maior participação do público para o bem-estar social –, os eventos focados em mobilidade contribuíram para acalorar a discussão sobre o transporte urbano. Em Sorocaba, o Pedala 24 horas, realizado pela Urbes (órgão de trânsito e transportes) e apoiado pela unidade do Sesc no município, tem a intenção de incentivar o uso da bicicleta como transporte, além do lazer e esporte. Entre 20 e 21 de setembro, cerca de 600 pessoas se revezaram por 24 horas na utilização da ciclovia do Parque das Águas para a conscientização de uma nova visão sobre a mobilidade urbana. A equipe do Clube do Pedal do Sesc Sorocaba participou, por revezamento, do início ao fim da maratona. A cidade tem mais de 600 mil habitantes, que contam com 115 km de ciclovias por todas as regiões do município e um sistema de 19 estações de uso comum gratuito de bicicletas, que está interligado ao transporte coletivo urbano. “A intenção é que o sorocabano use o transporte coletivo urbano, complemente com a bicicleta a sua viagem ou até mesmo migre para ela”, comenta Roberta Bernardi, gerente de educação para o trânsito da Urbes.
Mesmo sendo prevista como meio de transporte no código de trânsito, a bicicleta ainda está mais associada pela população ao esporte e lazer. No trânsito, ela ainda passa como um elemento estranho entre os meios motorizados, resultando em insegurança para os ciclistas, um dos fatores inibidores da prática modal. A instalação de ciclovias tem sido uma forma de incentivar a sociedade. "A infraestrutura de uma ciclovia passa a sensação de maior segurança ao usuário", observa Roberta. Essa informação é confirmada por Carolina, que relata ações do Sesc em repassar conhecimentos que possibilitam às pessoas iniciarem e desenvolverem sua atuação como usuários de bicicleta: “Temos clubes do pedal e realizamos oficinas para conserto e manutenção, até mesmo aulas de como lidar em situações de uso no trânsito, além do repasse de conhecimentos sobre a alimentação para a prática do ciclismo”. Ela também enfatiza que “essas ações contribuem para resolver não somente o problema da mobilidade, mas também trabalha a questão do sedentarismo, buscando uma melhoria na qualidade de vida das pessoas”.
Casados com o pedal
Há oito anos, o casal Rosemary França Gonzales e Aparecido Joaquim Mendes utiliza a bicicleta tanto como meio de transporte quanto para esporte e lazer. O início se deu de forma inusitada. “Roubaram nossa moto às vésperas de nosso casamento e, como não tínhamos carro, a solução foi utilizar as bicicletas que estavam encostadas na garagem para entregar os convites. Desde então, nosso meio de transporte, esporte e lazer é a bicicleta”, relembra Rosemary. Ambos são incentivadores da prática, inclusive pela formação de grupos para pedaladas. Conhecidos pela alcunha de “Casal 20”, suas experiências registram até viagens para outros estados e países tendo a bicicleta como meio de transporte. Para ela, há muito mais do que somente a questão das práticas comuns desse meio. “É sair da zona de conforto e tentar buscar muito mais do que saúde e sustentabilidade. O ciclismo permite uma troca cultural que dificilmente as pessoas teriam ao utilizar outros meios de transporte, como os motorizados”.