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A árvore dos sonhos que não envelhecem
No Festival da Integração, idosos participam de experimentação com a arte educadora Marta Mursa
Qual a idade ideal para ter um sonho e conseguir concretizá-lo? Sonhos são para os jovens? As experimentações que acontecem no Festival da Integração deixam claro que não. Sonhos não tem idade.
Eram pouco mais de 14h quando os participantes começaram a chegar no auditório do Sesc Bertioga ao encontro da arte educadora Marta Mursa. “O que é que vai ter aqui? Se for artesanato, eu não quero”. Pra quem acha que todas as idosas têm total afinidade com barbantes, tesouras e fitas, Dona Wilma é um bom exemplo de que isso não é uma regra. “Não tenho muita paciência pra artesanato, não. Meu negócio é outro”. Para a sorte da alegre (e sincera) participante piracicabana, a proposta ia bem além do artesanato. Marta Mursa tem um trabalho que é cuidadosamente ligado ao processo de autoconhecimento, à sensibilidade e à transmissão de histórias pessoais. Em outras palavras, mais do que aprender a confeccionar um objeto qualquer, a aprendizagem é, na verdade, apenas um dos instrumentos que auxiliam no compartilhamento de histórias, ideias, opiniões e... sonhos!
Enquanto arame, elástico, barbantes e fios coloridos iam tomando a forma de um filtro dos sonhos, as histórias iam surgindo. Ora vinha uma emoção do passado, ora vinha um desejo presente. E todos olhando na direção do futuro. “Gente, não tem problema se um não ficar igual ao outro. Cada um sonha de um jeito mesmo, né? O meu sonho vai ficar bem colorido”. E, pouco a pouco, o objeto artesanal e os sonhos iam se misturando. As cores eram do sonho que se sonha, ou do filtro? Isso já não importa... Todos estavam ligados por um único desejo: o de sonhar sempre.
Mas Dona Wilma, se o seu negócio não é artesanato, qual é então?
“Sempre quis ser cantora, meu negócio é cantar. Quando eu era mais nova, vim pra São Paulo participar de programa de calouros. Ganhei vários prêmios e cantei até com o Aguinaldo Rayol. Mas um dia minha mãe me viu na TV e me fez voltar pra Piracicaba. Naquela época ser artista não era bem visto, sabe? Minha mãe interrompeu meu sonho. Muito anos depois, no casamento do meu filho, a moça que a gente tinha contratado para cantar não apareceu. Eu cantei Ave Maria no casamento do meu filho. Já com mais de 50 anos, realizei o meu sonho. E hoje eu canto lá no Sesc Piracicaba... E vou cantar aqui também”.
Os sonhos de Dona Wilma se juntavam ao sonho da Dona Sebastiana, da Dona Orquidéa, da Dona Gleide. Canta Dona Wilma. Sonha Dona Wilma. “É Wilma Cecília. Wilma com W”.
Dona Wilma Cecília, que veio do Sesc Piracicaba para Bertioga sonhar com a gente.
Rapidinhas do Festival:
- No Parque Aquático, logo pela manhã, a aula aberta de hidroginástica foi concorrida. Mesmo com o baile tendo ido até altas horas ontem.
- Na entrada para o almoço, os participantes puderam degustar os sabores da mata atlântica com a equipe do Sabor na Capela
- Thiago Rezende, o Homem na Agulha, começou a série de oficinas livres de tricô e crochê.
As fotos estão na galeria abaixo.
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O Festival da Integração é um evento que acontece duas vezes no ano, uma em maio e outra em setembro, reunindo, a cada edição, 700 idosos frequentadores das Unidades do Sesc em São Paulo, com a finalidade de consolidar as ações permanentes desenvolvidas através do Programa Trabalho Social com Idosos – TSI. Durante seis dias, é oferecida uma programação especial que fortalece os objetivos da ação do Sesc junto a esta população. Além de usufruírem das instalações e ambientes do Sesc Bertioga, os idosos têm a oportunidade de participar de atividades de várias modalidades e linguagens, tanto esportivas, de lazer, como artísticas. No ano de 2014, o objetivo central é a reflexão sobre as possibilidades de novos projetos de vida, estimulando um pensamento sobre a longevidade e a busca de realização também na maturidade. Sendo assim, o tema abordado é Meu tempo é hoje, e tem as principais ações realizadas através de oficinas e vivências com características práticas e reflexivas.